segunda-feira, 22 de julho de 2013

Pacha Mama

 

Pacha Mama, Mama Pacha

"Somos seus filhos, Mãe, ouça nossa prece, Mãe,
Nós que viemos para este mundo, Mãe, pelo teu útero, Mãe,
Hoje nós lutamos e destruímos você
Por favor, Mãe, queremos viver em harmonia
Ajude-nos a compreender e cuidar de você
Por favor, Mãe, ajude-nos a viver em harmonia
Ouça nossa prece, Pacha Mama
Ajude-nos a aprender como agradecer e amar você."
(Canto para Pacha Mama)

 
Para os povos nativos, conceitos atuais como “respeitar a Mãe Terra” ou “honrar todos os seres da criação” eram verdades milenares que constituíam a base de suas tradições religiosas. Conhecida e reverenciada por inúmeros nomes, conforme o local de seu culto, a Terra sempre foi nossa Mãe – no entanto, nem sempre amada ou honrada.
Sem precisarem de sofisticadas teorias ecológicas, os povos andinos nunca deixaram de amar e reverenciar Pacha Mama, a provedora de todos os alimentos, nutridora e protetora de seus filhos. A agricultura existia nos Andes desde o século 3 a.C. e incluía avançadas técnicas de irrigação, de seleção e de adaptação de diversas espécies vegetais, em função dos fatores geográficos e climáticos. A religião praticada pelas tribos andinas, antes de sua conquista pelos incas, refletia, de forma singela, sua permanente observação e conexão com as forças da Natureza e os ciclos das estações.

Os elementos naturais (Sol, Lua, estrelas, vento, nuvem, chuva, arco-íris, relâmpago, terra, água, montanha) eram divinizados e reverenciados com cerimônias e oferendas. Até o século XIII, quando os incas conquistaram e dominaram as tribos esparsas, impondo sua hierarquia social e religiosa e introduzindo os bárbaros sacrifícios humanos (de prisioneiros, crianças e virgens), as oferendas dos camponeses eram simples, assim como seu modo de viver. Oferecia-se milho: em grão, farinha ou
fermentado como bebida (chicha), raízes, frutas, folhas de coca, fumo e sangue de lhama.

Diariamente, as famílias colocavam um pouco de sua comida no chão, agradecendo a Pacha Mama por ela. No plantio ou na colheita, as mulheres salpicavam fubá sobre a terra e falavam suavemente com Pacha Mama, pedindo ou agradecendo a fartura da colheita.
Era importante lembrar e agradecer sempre à Pacha Mama, para que ela não se zangasse e assumisse seu aspecto de dragão, que sacudia a terra e provocava terremotos, enchentes, geadas ou secas. Os viajantes deixavam oferendas nas encruzilhadas antes de iniciarem suas caminhadas, também se pedindo a proteção de Pacha Mama antes de subir uma montanha, de forma a evitar o mal de alturas ou a queda nos precipícios (castigos que ela infligia àqueles que a desrespeitavam ou ofendiam suas criaturas).

Até hoje, nos lugares mais isolados da Bolívia, Peru e Equador, são realizados rituais e oferendas tradicionais para agradecer a Pacha Mama pela saúde, trabalho, bens e prosperidade. Acredita-se que Pacha Mama também tem fome e que precisa ser alimentada antes de lhe ser pedido qualquer favor. As oferendas, às vezes, são queimadas, junto com resina de copal, para que a fumaça leve as orações para todos os cantos da terra.
No mês de abril celebra-se o Dia Internacional da Terra. Nada melhor para marcar essa data do que realizar um ritual pessoal ou coletivo de gratidão para a Terra, que é nossa eterna Mãe.

Mirella Faur - Teia de Thea