quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Lammas, o festival da colheita


Celebrado no dia 2 de fevereiro para quem segue a Roda Sul e no dia 1º de agosto para quem segue a Roda Norte, Lammas, também conhecido como Lughnasadh, Véspera de Agosto e Primeiro Festival da Colheita, é a festa que marca o início da estação da colheita e é dedicado ao pão, onde agradecemos aos Deuses pela colheita com várias oferendas às deidades para assegurar a continuação da fertilidade da terra, e honrar o aspecto da fertilidade da união sagrada da Deusa e do Deus.

Esse sabá, que ocorre entre o Solstício de Verão (Litha) e o Equinócio de Outono (Mabon), marca o fim do Verão e o início da época da colheita, uma época de agradecimento aos Deuses por tudo o que colhemos. Agradece-se ao que foi bom e também ao que pareceu ruim, pois na religião Wicca crê-se que tudo o que acontece na vida faz parte no caminho evolutivo de cada um.

Lammas é um dos quatro grandes Sabbats. Ocorre a ¼ de ano da chegada de Beltane. É um tempo tradicional para os trabalhos da Arte. Para nós, wiccanos, o sentido da visão da luz que está trazendo a frutificação das sementes da Primavera é o mistério de Lammas. Mas esse Sabá também é um momento de espera, quando as sementes são colhidas na esperança de novas vidas que virão.
Nomenclatura

O nome Lughnasadh (ou “Festival de Lugh”) veio duma festa agrícola típica dos Celtas, que comemorava os jogos funerais de Lugh, o Deus sol que era maior guerreiro dentre os celtas, pois derrotou os gigantes que exigiam sacrifícios humanos.

Já o nome Lammas significa “massa”, é um nome mais recente para se referir a Lughnashad e começou a ser utilizado na Idade Média, representa o alimento (geralmente pão ou bolo ou qualquer outra massa) feito com os grãos, que simboliza a colheita, e repartido (como alimento sagrado) entre os membros da família ou mesmo entre amigos.

Nomes Alternativos: Elembrios, Harvest Tide, Teltain, Lunasa ou Laa Luanys (que deriva de Lughnasa),
Deuses

Na wicca eclética, este festival celebra Lugh, como senhor do Fogo, da fertilidade e quem instituicionalizou diversos jogos para honrar a morte de sua mãe adotiva, Talitu.

A morte sacrificial e o renascimento de Lugh, assim como a colheita dos grãos, estão sempre conectados a Lammas, simbolizando que sempre o Deus morrerá para renascer novamente através da benevolência da Deusa.

Outros aspectos desse festival contêm a representação do crescimento do nascimento, da honra e do agradecimento à Deusa, pelo seu ventre que cultivou as sementes, e a Lugh, em seu aspecto de Deus Sol, pelas bênçãos e fertilização do ventre da Deusa com seu calor e luz.

Outra Deusa que pode ser honrada é Aine, pois acreditava-se que uma gruta de Knockaddon estava ligada a Tir na n’og (o “Outro Mundo” celta) e de lá Aine chegava no Lammas para dar à luz a Eithne (o termo gaélico para grãos) que era um feixe de grãos. Três dias no ano eram dedicados à ela: a primeira sexta-feira, sábado e domingo após o Lammas. Era nestes dias que ela retornava como uma mulher sábia, que ensinava aos homens como caminhar em união e amor sobre a terra, domínio da sua mãe, a deusa Danu.

História

Lammas era originalmente celebrado pelos antigos sacerdotes druidas como o festival de Lughnasadh. Nesse dia sagrado, eles realizavam rituais de proteção e homenageavam Lugh, o deus celta do sol. Em outras culturas pré-cristãs, Lammas era celebrado como o festival dos grãos e o dia para cultuar a morte do Rei Sagrado.

Uma característica comum dos jogos eram os casamentos de Talitu, os casamentos informais que eram firmados por um ano e um dia ou até o próximo Lammas. Durante esse período, o casal decidiria se queria ficar junto ou romper com o casamento para que cada um seguisse o seu próprio caminho. Esse casamentos foram comuns até os anos de 1500 e as cerimônias eram geralmente solenizadas por um poeta, um bardo ou um Sacerdote ou Sacerdotisa da Antiga Religião.
Tailtu Games.

Tradições

Além do tradicional pão conhecido como “Massa de Lugh”, que é um pão no formato de um homem, simbolizando o sacrifício do Deus da Colheita. Como parte desse processo de agradecimento, a primeira colheita de grãos maduros é colocada dentro da massa do pão que é partilhado com todos os membros da comunidade que festejam o festival. As massas são moldadas na forma de um homem para simbolizar Lugh, do Sol, simbolizando o Deus da colheita, ou simplesmente em formato redondo representando a Deusa e a Roda do Ano, ou em forma circular com um trigo no topo dele. Pães recém-assados são parte importante da celebração de Lammas.

O pão é elemental por si: Terra, Ar, Fogo e Água são combinados em uma substância que sustentou milhares de pessoas durante séculos.

O pão combina as sementes da terra (farinha), com a água, a substância que deu origem a todas as coisas. O sal é o grande agente purificador. Levedura, o sagrado transformador dos Deuses, o segredo. Quando o sovamos, estamos trabalhando com a energia do ar, pois é assim que o pão ganha forma. Finalmente, quando ele vai ao forno, entra em contato com o elemento Fogo. Dessa forma todos os elementos estão presentes no pão.

Nessa época também são feitos Rodas de milho e bonecos de palha (de milho ou trigo) representando os Deuses, chamados de Senhor e Senhora do Milho. Esses bonecos são tidos como amuletos de proteção durante todo o ano, até o próximo Lammas, onde são queimadas na fogueira ou no caldeirão.

Os bonecos de milho do ano passado, juntamente com papéis contendo agradecimentos aos Deuses, são queimados, servindo como uma forma de lembrança de que devemos queimar o passado e utilizá-lo como combustível

Correspondência Nacional

Alguns wiccanos preferem utilizar simbolismos mais próximos à sua cultura brasileira, com simbolismos da cultura indígena.

Nesse sabá, podemos citar a Deusa indígena Mani. Segundo a lenda, a filha do chefe de uma tribo apareceu grávida, porém ela jurava não ter se deitado com homem algum. O pai, seguindo a tradição, iria matá-la; entretanto, na noite anterior ao ato, um espírito dos Antigos Anciãos da sua tribo veio-lhe em sonho e disse-lhe que a criança possuiria uma grande magia e que não deveria ser morta.

Quando a criança nasceu, sua pele era tão branca que mais parecia a própria lua a brilhar. Já nasceu sabendo falar, no segundo dia de vida, aprendeu a andar. Após um ano, aconselhando a tribo com as sábias palavras de uma Deusa, Mani morreu. Segundo a tradição, foi enterrada na oca de sua mãe, que a regava todos os dias.

Dentro de algum tempo, uma planta nasceu naquele lugar, uma planta cujas raízes escuras eram tão grandes que chegaram a sair do chão. Entretanto, o interior da raiz era tão branco quanto a alva pele de Mani; assim a planta ficou conhecida como Mandioca, que quer dizer, a Oca (casa) de Mani.

Por isso, em honra a Deusa Mani, também é muito comum no Brasil a valorização da mandioca e de outras plantas típicas no ritual de Lughnasad: a Festa da Colheita
para o nosso futuro.

Lugh, um Deus, muitos nomes

Alguns estudos acreditam que o deus Lugh presente na mitologia irlandesa possa ser um reflexo de uma divindade céltica anterior. Acredita-se que a raiz pro celtica “lug” vem da raiz proto indo-europeia “leuk” que significa possivelmente brilhar.

Existem similaridades entre o Deus Lugus citado em um inscrição na atual Espanha e Lugh filho de Cian. Algo que parece corroborar isso é a quantidade de nomes toponímicos que parecem derivar de seu nome, tais como:

➽Lugo, na Galicia
➽Lyon, na França ( antiga Lugdunum ou Forte de Lug)
➽Carlisle, Inglaterra(antiga Lugo Valium)
➽Leiden, Holanda
➽Lugones, nas Astúrias

Nos escritos do “De Bello Gallico” (A Guerra da Gália), Júlio Cezar traça um paralelo entre o Lugus gaulês e o Mercúrio romano, mostrando assim que entre os celtas da Gália havia o culto a uma divindade masculina denominada de nome e características muito similares ao do Lugh irlandês.

Lugh é creditado muitas vezes como uma divindade solar mas isso é aberto ao debate entre os mitólogos sendo que traçam um paralelo entre ele e o Júpiter romano, mostrando assim que Lugh pode ter tido alguma associação com os relâmpagos (seria sua furiosa lança sempre sedenta, uma analogia feita pelos antigos celtas que o cultuavam para as fagulhas que caiam dos céus e eles não compreendiam). Na sociedade céltica a arte da metalurgia era tida como mágica e sagrada e sendo assim Lugh (assim como Brigit) possuem como domínio também a magia.

➽Epitetos
➽Lugh mac Ethlenn mac Cian
➽Lámfada : Braço Longo
➽Ildánach : Habilidoso em muitas artes
➽Samildánach :Igualmente habilidoso em muitas artes
➽Lonnbéimnech: Atacante Feroz
➽Macnia:Jovem Guerreiro.
➽Lugh matou Balor, seu avô materno, na Batalha de Magh Tuireadh. Ele possui uma lança flamejante que nunca erra seu alvo e a espada Fragarach (“Respondedora” ou “Retalhadora”) que a ganhou de Manannan mac Lir.


Tailtu, a rainha mortal que criou um Deus

De acordo com o que nos diz o Livro das Invasões da Irlanda, Tailtu foi uma mortal filha do rei da Espanha que se casou com Eochaid mac Eirc, o último Fir Bolg, (O Alto Rei da Irlanda também é um de seus títulos).

Tailtu sobreviveu a invasão dos Tuatha Dé Dannan e foi a ela que Cian se voltou quando procurou uma mãe adotiva para o filho que tivera com Ethnniu dos Fomorianos. Mesmo sendo mortal, a Tailtu é creditado um feito monumental. Segundo conta a tradição, ela morreu de exaustão após ter limpado as planícies de toda a Irlanda para que os homens pudessem dar início a agricultura na Ilha Esmeralda.

Mito

Na tradição irlandesa, Lugh Lámfada é o filho de Cian da Tribo de Dana e de Ethnniu, filha de Balor, o horrendo líder dos Fomorianos. O matrimônio de Cian e Ethnniu foi utilizado como uma estratégia para unir as duas dinastias que buscavam o domínio da Ilha Esmeralda. No Lebor Gabála Érenn (O Livro das Invasões da Irlanda) nos é dito que Cian entregou seu filho Lugh para Tailtu, a rainha dos Fir Bolg que criou Lugh como seu filho adotivo Ora, os Fir Bolg eram homens mortais, descendentes de uma antiga linhagem que outrora havia governado a Irlanda mas que foram subjugados pelos Tuatha Dé Dannan. Tailtu cria Lugh como se ele tivesse saído de seu próprio ventre, ela assiste o lento passar do tempo, que nela produz marcas irreparáveis, transformá-lo de criança no jovem e poderoso guerreiro e artífice que ele se tornou. Infelizmente Tailtu morre após limpar os campos irlandeses para dar início agricultura na ilha(afinal, ela era uma rainha destronada e com ou sem a coroa em sua cabeça ela se sacrificaria pelo bem de seu povo). Tomado pelo luto, Lugh decide criar os Jogos de Lughnasadh em sua homenagem.

Correspondências

Ervas: flores da acácia, aloé, talo de milho, ciclame, feno grego, olíbano, urze, malva-rosa, murta, folhas do carvalho, girassol e trigo, peônia, flor de trevo, heliotrópio, verbena, murta, rosa, girassol, musgo irlandês, trigo, salga, centeio, aveia, cevada, arroz, alho, cebola, manjericão, menta, babosa, acácia, folha de maçã, folha de framboesa, folha de morango, folha de uva, azevinho, confrei, calêndula, vinheiro, hera, avelã, espinheiro-preto, sabugueiro.
Plantas e frutos: Flores da acácia, aloés, olíbano, nozes, cerejas, arroz, cevada, urze, murta, girassol, milho, aveia, trigo, amoras, maçãs, além de todos os grãos e frutos maduros da estação.
Frutas brasileiras do verão: Abacaxi, Banana-prata, Coco verde, Figo, Jabuticaba, Jaca, Kiwi, Laranja pêra, Laranja seleta, Mamão Havaí, Manga, Melancia, Melão, Nectarina, Pêssego, Romã, Uva Itália
Verduras e legumes da época: Alho, Batata, Catalonia, Milho verde, Salsão, Vagem.
Comidas típicas: Pães caseiros, bolos de cevada, cordeiro assado, além de tortas e outros pratos feitos a partir dos frutos da estação. Os alimentos pagãos tradicionais são pães caseiros (trigo, aveia e, especialmente, milho), nozes, cerejas silvestres, maçãs, arroz, tortas de cereja, vinho de sabugueiro, cerveja e chá de olmo.
Bebidas típicas: Vinhos, cervejas, chás e sidras, além de sucos e outras bebidas preparadas a partir dos frutos da estação.
Incensos: acácia, aloé, olíbano, rosa e sândalo.
Cores: laranja e amarela. marrom, laranja, vermelho, amarelo.
Pedras: aventurina, citrino, peridoto e sardônia, olho-de-gato, topázio dourado, obsidiana, ágata, musgosa, rodocrosita, quartzo claro, mármore, ardósia, granito, seixos de rio.
Deuses geralmente representados: Lugh, Tailtu, Aine, Baco, Apolo, Rá, Ceres, Deméter, Mani, Urihi, Kupeirup, Iaçá, Danu, Gaia, Pele, Brigid, Uzume, e os demais deuses e deusas da colheita, fartura e proteção.

Dez Mil Nomes