Quando a bruxa desperta, dizemos que a mulher encontrou o caminho de volta ao seu próprio poder. Isso significa que a reconexão foi feita.
Ao longo dos anos, a menina, que absorveu a programação de base dos pais e da sociedade, precisou suprimir certos aspectos de seu ser para que se adequasse e fosse bem aceita no meio em que vivia e, assim, quebrou a conexão consigo mesma.
Considere que o maior medo de toda criança é o da não aceitação pelo grupo do qual depende sua sobrevivência.
Para garantir afeto, proteção e alimento, ela pode aprender muito cedo que é preciso fazer o que eles dizem e ser como eles desejam.
O problema é que o poder pessoal está diretamente vinculado a quem se é, num firme contrato de autenticidade.
Sabemos que toda magia, processo criativo ou "cura", só são feitos quando o humano e o divino se tocam, como na famosa obra de Michelangelo. Precisamos dessa reconexão se quisermos manifestar nosso potencial plenamente.
Mesmo que se leve anos, sempre chega certa altura da vida em que uma mulher pode esbarrar em algo dentro de si mesma que seja extremamente desconfortável. É como o fecho de um sutiã que incomoda, estando lá há tanto tempo, que é surpreendente como aquilo pôde ser suportado.
É o incômodo de saber que há um manancial de energia interior muito maior do que lhe permitiram expressar.
Agora é preciso descobrir como alcançá-lo, já que este caminho não é trilhado há muito tempo.
A boa notícia é que caminhos abandonados costumam ser tomados pela vegetação. Eles não se vão por completo, mas ficam encobertos pela relva, como se a natureza se encarregasse de protegê-lo enquanto a mulher está ausente.
Uma vez que se decida relembrar o trajeto para dentro de si mesma, todo o sistema da mulher se põe em ação para auxiliar. Mas, assim como nos mitos e contos de fadas, é preciso que o processo seja feito a partir de uma decisão tomada de todo o coração.
Assim, inúmeros recursos começam a ser mobilizados. Interna e externamente.
Dentro, manifestam-se forças psíquicas e viscerais. Fora, as sincronicidades começam a trazer pessoas, criar situações e sinalizar que se está no rumo certo.
Haverá muito trabalho pela frente, com toda certeza. Mas esse esforço despendido tem sabor diferente do esforço que se fez ao longo de toda a vida para a adequação. Desta vez, o esforço tem um tom de obra alquímica, ou uma espécie de ato epopéico, onde se é ao mesmo tempo a heroína e a mocinha a ser resgatada.
Quando se alcança a mão da donzela perdida, e ela lhe olha diretamente nos olhos, sua face muda para a de uma bruxa extremamente velha e sábia.
O poder pessoal nesse momento é re-integrado.
Perceba que nesse processo não há luta externa contra inimigos convenientes, como o patriarcado, os próprios pais ou a religião. Qualquer que seja a sua luta, esta deverá ser feita internamente, para que seja efetiva e definitiva em termos de transformação pessoal.
Para obter apoio e motivação nos momentos em que a missão fica mais difícil, podemos contar com psicoterapia, círculos femininos, constelação familiar, livros maravilhosos sobre o sagrado feminino e muitas ferramentas de autoconhecimento que hoje estão bem disponíveis.
O importante é trilhar esse caminho com coragem, no sentido mais puro da palavra: agir com o coração.
Numa busca sincera, novos patamares são sempre atingidos, porém a jornada não tem fim. Há sempre mais a descobrir sobre si mesma. E é maravilhoso que seja assim.
Uma bruxa sabe que, unida ao Grande Mistério, seu poder é infinito....
Adriana Schier