domingo, 12 de maio de 2019

A Anciã


A sociedade moderna, pelo seu foco no corpo físico e na manutenção da juventude de um ponto de vista estético, intenta postergar cada vez mais a fase do desenvolvimento humano a qual chamamos de “velhice” ou “terceira idade”.
Temos receio de falar ou perguntar a idade de alguém, com medo de ofender, como se envelhecer fosse o prenúncio do fim da vida, ou o luto de uma juventude supervalorizada e vista como a fase mais relevante da nossa vivência. Tememos todos os prejuízos relativos ao corpo, a suposta ociosidade, a inatividade sexual, a redução dos recursos materiais e o retorno à dependência, como se fôssemos novamente nos tornar crianças.
Se olharmos para além da produtividade e do consumo, do material e do perecível, veremos caminhando serenamente na profundeza dos mistérios a Anciã, a face arquetípica da psique feminina que incorpora não o fim de um processo, mas a integração de toda a vivência.
A Anciã não busca pela verdade; ela se torna a própria verdade. A Anciã não busca por sabedoria; ela se torna a própria sabedoria. Ela é a sábia, que age acima de tudo com ética e justiça, pois ela entende que a verdade universal está além do visível aos olhos do corpo e do palatável à mente dos desejos. Ela transita entre realidades, pois sabe que o seu espírito não tem limites. Por isso, também, não teme a morte; ela a tem como uma importante mestra, que em seu vislumbre no horizonte a ensinou, ao longo de sua jornada na vida encarnada, que apenas levaremos para além desta vida mundana o que está integrado ao SER. Tudo o que possuímos – seja um corpo, bens materiais, desejos impetuosos – não perdurarão.
A Face Anciã da psique feminina saudável carrega em si a ingenuidade e a curiosidade da Donzela, pois sabe que há diversas outras realidades a explorar; sustenta o ímpeto amoroso e doador da Mãe, pois sabe que o seu despertar implica na responsabilidade de nutrir toda a criação, e de manter o incessante movimento da vida-morte-renascimento.
A Anciã não é o fim, nem o começo.
Ela é o próprio ciclo infinito da existência.
Wofiira Morrigan