Certas coisas são sempiternas. A magia é uma delas. Deriva das raízes persas e gregas magus e magos, que significam sábio. A palavra inglesa magi, significando magos ou homens que praticam as ciências ocultas, provém delas. As Bruxas estão entre os magos que participam na obra da criação a fim de alimentar as pessoas e proteger a Terra. A magia não pertence a nenhuma cultura, sociedade ou tribo — ela é parte da sabedoria universal. Os produtores de magia em todos os séculos e em todas as culturas desempenharam papéis semelhantes e compartilharam de características similares. Quer fossem chamados de Bruxas, xamãs, sacerdotes, sacerdotisas, sábios, feiticeiros, curandeiros ou místicos, eles sabiam como curar os doentes, reunir os rebanhos, fazer medrar as searas, assistir nos partos, rastrear a influência das estrelas e dos planetas, construir templos e cômoros sagrados. Conheciam os segredos da Terra, os poderes da Lua, os anseios do coração humano. Inventaram a linguagem, a escrita, a metalurgia, a lei, a agricultura e as artes.
Seus rituais e cerimônias, seus feitiços e sortilégios, suas orações e sacrifícios, eram expressões de sua unicidade com a fonte de toda a vida, a Grande Mãe de todas as coisas viventes. Em primeiro lugar, e sobretudo, os fazedores de magia eram curandeiros que podiam diagnosticar doenças e prescrever o remédio e o ritual corretos para curar pacientes. Sempre realizada num contexto social que incluía a família e os parentes, a magia do antigo curandeiro funcionava porque era holística, apoiando-se no poder de cura do próprio paciente e trabalhando com os elementos e espíritos do meio circundante do paciente. Ele lidava com as causas físicas e espirituais da doença — a invasão de espíritos daninhos ou substâncias
nocivas, e os efeitos debilitadores da perda da alma. Os antigos curandeiros eram capazes de expulsar do corpo objetos maléficos e de recuperar almas perdidas.
Os antigos magos também eram conselheiros e líderes espirituais que oficiavam em importantes ritos de passagem. Celebravam casamentos, santificavam nascimentos, ungiam o recém-nascido, presidiam às cerimônias rituais de iniciação dos jovens na idade adulta, e conduziam as almas dos moribundos para o mundo seguinte. Como se situavam “entre os mundos" do espírito e da matéria, podiam servir como pontes e mediadores entre o humano e o divino. As pessoas procuravam nos com seus sonhos e visões. Por vezes, só eles podiam ajudar um indivíduo a descobrir seus espíritos guardiões e nomes sagrados.
Como videntes, profetas e visionários convincentes, eles respondiam a perguntas sobre o passado e o futuro. Interpretavam augúrios e presságios. Aconselhavam sobre as épocas
auspiciosas para plantar, casar, viajar, obedecer ao que a visão ordenava que se fizesse. Alguns deles tinham o poder de levantar tempestades, provocar a chuva e acalmar os mares.
Eram os Mestres dos Animais, que entenderam o nosso parentesco com todas as criaturas. Conheciam as mentes e os corações dos animais e estavam à vontade com as coisas
selvagens e bravias. Podiam comunicar-se com animais e plantas, e rondar os lugares sagrados. Conheciam a linguagem arcana com que a criação fala a si mesma. Sabiam como ouvir. E os magos eram magistrais contadores de histórias que conheciam os antigos mitos — pois até mesmo os povos antigos tinham mitos antigos que continham sua memória popular coletiva. Como guardiões da lenda e do costume, recitavam poemas e entoavam canções durante horas ou dias a fio, magnetizando seus ouvintes com a magia de suas vozes. Foram os bardos originais.
Quando pensamos sobre os dons e talentos desses antigos criadores de magia, algo reluz em nosso íntimo. Somos sua ressonância porque sabemos possuir também esses dons e talentos. Em algum nível de consciência sabemos que essas aptidões não são sobrenaturais mas naturais e que as usamos - na memória, na imaginação, numa outra vida, em nossos sonhos. Compreendemos as verdades profundas que a Bruxa, o xamã e o místico consubstanciam, verdades tão antigas que o mundo nunca se livrará delas. Embora muitas pessoas modernas
não o admitam, a visão de mundo da Bruxa ainda faz sentido. Ainda pressentimos a existência de uma conexão com a natureza que não foi totalmente perdida. Sabemos por instinto que toda a criação contém uma vitalidade magnífica, que tudo está vivo, que todas as criaturas contêm espírito. No âmago de nossos corações, concordamos com o filósofo Tales, que disse aos antigos gregos: "Todas as coisas estão repletas de deuses.''
Cada cultura tem seus magos e visionários. Encontra molos nas histórias da Suméria, Creta, índia, Egito, Grécia, África, as Américas, Polinésia, Tibete, Sibéria e no Oriente Médio. Na
Europa ocidental, apareceram com os druidas, os sacerdotes e sacerdotisas da raça céltica cujas origens ainda estão envoltas nas brumas da história. As migrações celtas difundiram a
sabedoria e a magia druídicas da China à Espanha. Na mineração e na metalurgia, na escultura e na arte, poesia e literatura, leis e costumes sociais, os povos célticos deixaram
uma indelével marca na cultura européia. De seus costumes científicos e espirituais, as Bruxas modernas derivam boa parte de sua Arte. Com um extraordinário engenho para combinar o prático e o metafísico - os celtas desenvolveram o arado de tração, os sistemas de campos retangulares e a rotação de culturas, assim como as teorias sobre a imortalidade da alma e a reencarnação — os líderes druídicos dos celtas impõem-se como brilhantes modelos para os modernos Bruxos.
Os conhecimentos das Bruxas são antigos. Sua visão de mundo é antiga. As pessoas que se vangloriam de ser modernas repudiam freqüentemente a feitiçaria como fantasia, superstição ou impostura. Descrições tendenciosas de povos antigos, escritas por historiadores que estavam convencidos da superioridade de sua própria cultura, fizeram as civilizações dos nossos ancestrais parecer bárbaras, ignorantes e selváticas. Mas a verdade sobre os antigos modos de vida não pode ser suprimida. A feitiçaria prosperou nas chamadas culturas primitivas do passado, prosperou nas culturas altamente desenvolvidas do passado. E floresce hoje.
O Poder da Bruxa - Laurie Cabot