segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Bruxa: Mulher selvagem e Orgasmática



"É possível manter uma mulher sob controle, mas não uma mulher livre. Se a mulher controlada é solta, jamais volta para a jaula!"


A bruxa é a mulher que se permitiu se integrar aos ciclos da vida e da morte, aquela que se permitiu ouvir sua loba interior, a mulher selvagem que grita, geme e uiva de dentro para fora, e é por esse motivo que a mulher e bruxa é a maior orgasmática dos seres. Desde os primórdios o segredo sobre o corpo da mulher é vestido como um tabu, é tido como ameaça e incompreendido por muitos e não só, a sua sexualidade foi banalizada e escondida atrás de montanhas de panos como se o seu corpo fosse o fruto proibido ou a luxúria, não é atoa que somos filhas de Lilith, somos pedacinhos daquelas que não se calaram, que uivaram nas noites de lua cheia, daquelas que tiraram suas vestes e estamparam seus belos e sagrados corpos, somos filhas das mulheres parideiras, das mulheres geradoras, aquelas que possuem em seu sangue a força de todas as coisas, a força da Deusa que a tudo gerou.
    A bruxa é a mulher libertina, a mulher orgasmática, a mulher selvagem que não tem vergonha da sua essência, do seu corpo do seu sagrado, é aquela que vive seus ciclos como quem vive a natureza e tudo o que vem dela. São as mulheres que sobem em arvores, que dançam, que mergulham de cabeça, que se permitem e que ousam, são elas que enfrentam todas as coisas impossíveis, que testam, que cobiçam, que se entregam, porque estão em busca de seu próprio prazer, estão em busca da sua verdadeira natureza animalesca e predadora, são mulheres que não permitem o controle sobre elas mesmas, são mulheres guerreiras, donzelas, mães, avós, tias, irmãs, namoradas e ficantes, são mulheres que sabem seu poder e são mesmo aquelas que ainda não descobriram esse poder.

"Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior."
 — Mulheres que correm com Lobos

 A bruxa é a mulher que prova, a mulher que provoca, a mulher que tira do sério. O riso alto e estrondante da mulher que zomba, que indaga e que questiona, por vezes ainda é oprimido e reprimido com risinhos e bom comportamento. A mulher bruxa e orgasmática não tem medo de mostrar os dentes, porque ela é uma loba feroz, um gato arrisco. Ela sabe o que a faz feliz, o que ela quer e o que ela deve fazer, não se esconde atrás dos bons modos e da falsidade, ela sabe o que é e tira proveito disso ao máximo. Por séculos a mulher foi contida, foi vestida e escondida e a bruxa desde sempre desfez e sempre irá desfazer todos esses aspectos da donzela e boa moça, justamente porque não teme nada e nem ninguém, ela é a mulher indomável.

A bruxa é a mulher que se destaca, mesmo que não tenha fogos de artifício ou estrondo, ela é a mulher que passa e deixa seu legado. É a mulher autoritária, a líder, aquela que causa a confusão mas também é aquela que traz a tranquilidade e a ordem, é aquela que desafia as leis impostas à elas e que tentam tudo o que pode. São as mulheres de personalidades fortes, questionadoras e seguras de si, porque sabem bem onde ir e como ir. São as mulheres possuidoras e arrebatadoras e mesmo que pareçam inofensivas, quando sabem ou descobrem seus poderes fazem questão de usá-los. É a mulher que não tem medo de ser o que é e que tem o domínio sobre si mesma, justamente por conhecer cada fio de cabelo preso em sua cabeça.

Eram as bruxas que levavam jovens donzelas até a bruxaria, ao paganismo e à devoção do diabo. Eram elas as más influências, as mulheres que levavam umas as outras ao cubículo, ao pecado e a cometer crimes, injúrias... Desde sempre a mulher bruxa foi condenada por sua sexualidade, por sua liberdade a a sua reputação de moça má vem de séculos atrás, onde a bruxa era a mulher que descobriu no sexo e no pecado os segredos do oculto e por isso eram más influências e passaram a ser consideradas um vírus, algo a ser exterminado. Foi a bruxa que deu à princesa a maçã envenenada, foi a bruxa que amaldiçoou uma jovem princesa, foi a bruxa que transformou príncipes em sapos...

A mulher bruxa sempre esteve muito ligada ao sexo, aos prazeres carnais, aos rituais sexuais e a todo esse universo tido como pecaminoso, porque para elas nunca existiu pecado em ser o que é e gostar do que se é. Algumas lendas antigas contam que as bruxas se transformavam em belas donzelas para seduzir homens casados e dessa forma destruíam famílias de bem, lendas essas que trazem as desculpas masculinas por suas traições, condenando sempre o feminino, a bruxa que influenciou ou que fez uma "amarração".

Para a mulher bruxa, a mulher selvagem, a sua liberdade era importante, o andar nua, o dançar, a prática de celebrações e ritualizações que envolviam sexo e o próprio prazer eram taxadas de bruxaria, quando era a força de celebrar a fertilização, o mundo, a natureza e o impulsos, o animalesco. As mulheres bruxas são livres, não podem ser acorrentadas, elas são orgasmáticas, celebram a sua verdadeira essência sem temores, sem pudores como se tudo fosse normal, e é por isso que são tão sedutoras, porque não permitem que sejam dominadas por ninguém. Ela tem seu espírito libertino porque é selvagem, é animal, é reprodutora, a geradora.

Por muitos séculos a mulher foi a verdadeira personificação da cobra e Lilith traz esse aspecto da mulher selvagem, traiçoeira, predadora, silenciosa e misteriosa, a mulher e Deusa, a salvagem que transpira sexualidade, que transborda prazer e fertilidade e por esse motivo é tão celebrada no paganismo, já que a mulher é tida como a criadora e não como a criação, é vista como a mãe geradora, a mulher loba que corre nos campos, bosques e florestas, é a mariposa que voa livre, o felino traiçoeiro que mordicas, que não entrega-se facilmente à qualquer um por completo, é tida como a cobra selvagem que ataca e mata. Em uma análise mais profunda sobre o aspecto feminino para com o cristianismo, temos a mulher silenciada, aquela a qual não se deve confiar e por isso deve ser mantida na linha, sob controle. É realmente muito ruim que tenham atribuído á mulher tais aspectos como se não fossemos dignas de absolutamente nada, menos ainda dignas de confiança e fidelidade, porém, nós sempre teremos a ousadia de trazer ao mundo esses dois lados da moeda, aqueles que se permitem serão dignos de nossa entrega total, aqueles que não, ficarão sempre ao raso da mulher selvagem, sem conhecer seus verdadeiros mistérios.

"Cada mulher tem acesso potencial ao Rio Abajo Rio, esse rio por baixo do rio. Ela chega até ele através da meditação profunda, da dança, da arte de escrever, de pintar, de rezar, de cantar, de tamborilar, da imaginação ativa ou de qualquer atividade que exija uma intensa alteração da consciência. Uma mulher chega a esse mundo-entre-mundos através de anseios e da busca de algo que ela vê apenas com o cantinho dos olhos. Ela chega lá com artes profundamente criativas, através da solidão intencional e da prática de qualquer uma das artes. E mesmo com essas práticas bem executadas, grande parte do que ocorre neste mundo inefável permanece para sempre um mistério para nós por desrespeitar as leis físicas e racionais como as conhecemos"
Mulheres que correm com Lobos

 O grande problema que enfrentamos hoje em dia a respeito da sexualidade alheia, das escolhas e da diferença são problemas que sempre estiveram presentes na sociedade, justamente pela privação, pela opressão e repressão das diferenças em um geral. O feminismo luta pela liberdade das mulheres, como as bruxas lutaram por suas crenças. Algo muito bacana foi dito pela Márcia Frazão em seu facebook oficial e é algo que eu concordo em pleno: "Que me desculpe a galera da pirotecnia esotérica, mas (para mim) a Marcha das Vadias é a mais real representação de verdadeiras bruxas. Estou mais para Eastwick do que para Paranapiacaba...", a luta pelo feminino e tudo o que envolve nosso gênero é importante ser revelado, é preciso lutar por nossa liberdade como muitas antepassadas fizeram, é importante se fazer ouvir já que nosso uivo foi calado por tantos séculos. Hoje a mulher está a descobrir o poder que existe dentro dela porque a luta continua, por isso, tenhamos a falta de decência em ir às ruas e pedir liberdade e libertinagem! 

"A bruxa é a mulher sábia, a mulher inteligente, a mulher que tem domínio e poder sobre seu racional e emocional, é a intuitiva, a professora, a mestra, a sacerdotisa, a chefe... Ela é aquela que está acima da média, aquela que gosta de descobrir, aquela que possui enormes segredos e aquela que instiga. A mulher bruxa é a mulher com o poder de trazer a luta, o questionamento, as verdadeiras essências das coisas. À ela pertence a ousadia, o saber, as vontades e desejos, os segredos e os mistérios. Estar com uma bruxa é ser a caça, é permitir estar ao lado dela e poder entrar em seus ciclos e descobrir alguns grandes mistérios. É comum que a bruxa não se revele, tenha segredos, transborde amor e ódio, que deixe você à beira do precipício pendurado em uma corda, porque ela te protege, mas também ensina. A mulher bruxa se permite sentir, permita-se sentir na mesma intensidade. Só é digno de estar ao seu lado como igual, como deve ser, quando você ganha a confiança dela e se permite descobrir. Bruxas são pura ousadia, elas assustam em todos os aspectos, elas não são como pessoas normais, à elas foram revelados inúmeros segredos e ela é uma ótima guardiã deles, ela procura a sua alma dentro dos seus olhos e não se interessa em ler somente sorrisos e gestos, o que está lá dentro, misterioso, talvez até incerto, é o que elas buscam, a essência."

Mistério dos Deuses - Stefanie O.