quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Tango de Évora


A chuva cessou. Como uma lágrima de prazer, o orvalho rola para ver o resplendor do tímido desabrochar das flores. Os pardais respingam as gotículas suadas de uma chuva já inexistente. O vento empurra as pesadas e negras nuvens para outras terras abençoar. Nas poças de àgua, o refletor do céu era formado. Libélulas e seus vôos em plena superfície do líquido das tetas nebulosas.
A luz solar risca no céu as sete cores de um colorido arco de íris.

As Fadas dançavam em volta de uma planta respingante e cantavam em uma linguagem mágica e sagrada.

E quando menos se esperava, surge ela. Bela, mágica, humana, mulher. A Bruxa que veio de Évora em sua mais magnífica determinação como uma leoa à procura de abrigo. Com suas mãos cuidadosas, em um corte sem sangue, extrai ervas para seus feitiços caseiros.

Distribui saudações e bençãos aos seres elementais e contribui contra a fome dos pássaros com suas humildes migalhas de pão seco.
Em seu eterno espírito feminino, colhe uma flor e depositá-a por trás de sua orelha; que já escutou a própria Mãe-Natureza entre gritos de dor e gemidos de prazer.

Com uma leve brisa, ela sente o que há de vir em um amanhã inesperado e inexplicável.

A romã colhida da árvore é para colocar sabor em seus lábios; que descansam após o recital de encantamentos. Uma mordida, várias semente e um pacto com os antigos está lançado.

Em suas vestes místicas, ela dança com pés desnudos e em meio a lama mole da terra que tudo cria.

O perfume da grama exala sensualidade em um ar úmido e purificador.

Ela, bruxa, dança seu tango sagrado aos Deuses e à abençoada chuva, que faz crescer os verdes pastos.

Em movimentos circulares se traçam as espirais da Deusa, que jamais falece no decurso do tempo.

Com uma tesoura de prata, corta uma mexa de seus longos e negros cabelos, laçando-a em uma fita roxa enquanto dança à música feita por aves e besouros.

Um pedaço de si mesma é ofertado à natureza, livre do medo da terra e da morte; que são suas Mães.

O bailado é pausado por uma corrida repentina ao meio das árvores molhadas e em cantos melodiosos por risos e sorrisos.

Desde então, só os Deuses sabem! Jamais se ouviu palavras sobre aonde residia a bela bruxa de Évora.

As velhas lendas retrucam sobre o inferno e sobre o pecado.

Mas as bruxas antigas discordam:

“Évora, A Bruxa, vive dentro daqueles que escutam
o canto da Mãe do Mundo.”

(Autoria de Morgan le Fay)