quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Taliesin…

Para aqueles que não sabem, a poesia é considerada como sendo uma da sete artes tradicionais e para os antigos Celtas (segundo a Lu) aqueles que eram agraciados com o dom da poesia era reverenciado pelos demais, pois, acreditava-se que eles falavam a língua dos Deuses.

Um dos mais famosos poetas da língua galesa é justamente Taliesin, cuja existência é um desafio até mesmo para os mais céticos.

Diz a lenda que Taliesin inicialmente chamava-se Gwion Bach, um servo da feiticeira Ceridwen que tinha uma bela filha e um filho horrível chamado Morfran (às vezes Avagddu), cuja aparência não poderia ser curada nem por magia. Sendo assim, ela resolveu dar-lhe o dom da sabedoria em compensação.

Fazendo uso de um caldeirão mágico, Ceridwen cozinhou uma poção que daria inspiração e sabedoria por um ano e um dia. Um homem cego chamado Morda mantinha o fogo sob o caldeirão enquanto Gwion mexia o conteúdo, cuja as três primeiras gotas davam sabedoria, enquanto o resto era um veneno letal.

Três gotinhas quentes espirraram no polegar de Gwion enquanto ele mexia, queimando-o. Instintivamente, o menino levou o dedo à boca e instantaneamente ganhou grande conhecimento e sabedoria. O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi que Ceridwen iria ficar muito brava, o que fez com que ele fugisse.

A perseguição de Ceridwen a Gwion é uma das narrativas mais importantes no universo mistico dos Celtas. Enquanto Ceridwen perseguia Gwion, ele se transformou numa lebre. Em resposta, ela virou uma raposa. Ele então virou um peixe e pulou num rio e ela transformou-se em lontra. Ele se tranformou em um pássaro e ela, em resposta, em um falcão. Finalmente, ele se transformou em um mero grão de milho e ela virou uma galinha que comeu o pequeno grão de milho. Mas ao voltar a sua forma humana, ficou grávida. Resolveu matar a criança assim que nascesse, sabendo que era Gwion, mas o bebê era tão lindo que ela não conseguiu fazer o que pretendia. Ao invés disso, jogou-o no mar envolto numa espécie de bolsa de couro. A criança não morreu e foi resgatada por um rei.

A história de Gwion e da poção da sabedoria se parece muito com o conto irlandês de Fionn mac Cumhail e o salmão da sabedoria. O que nos leva a acreditar, que ambas histórias possam ter a mesma fonte.

Ao ser encontrado por Elffin, Taliesin recitou seus primeiros versos, um belo poema:

Bom Elffin, cesse o seu lamento!
Falar em vão não faz bem a ninguém.
Não faz mal ter esperanças,
Nem nenhum homem vê o que lhe suporta,
A prece de Cynllo não é um tesouro vazio,
Nem Deus quebra suas promessas.
Nenhuma pescaria na rede de Gwyddno
Foi tão boa quanto a de hoje.
Bom Elffin, seque suas bochechas!
Tal tristeza não lhe faz bem,
Apesar de se sentir traído,
Tristeza em excesso não traz bem algum,
Muito menos duvidar dos milagres de Deus.
Apesar de ser pequeno, sou habilidoso.
Do mar e da montanha,
Das profundezas do rio,
Deus dá seus dons aos abençoados.
Elffin do espírito generoso,
Seu propósito é covarde,
Não deves ficar tão triste.
Bons agouros são melhores que maus.
Apesar de ser fraco e pequeno,
Nas ondas do mar revolto,
Serei melhor para você
Que trezentas cargas de salmão.
Elffin de nobre generosidade,
Não entristeça ante seu pescado.
Apesar de ser fraco no fundo da cesta,
Há maravilhas na minha língua.
Enquanto eu estiver cuidando de você,
Nenhuma grande necessidade há de ter.
Lembre-se do nome da Trindade
E nada te vencerá."

Maravilhado, Elffin ousou perguntar como um simples bebê poderia falar tão belos versos e foi então que ele ouviu do pequeno Taliesin:

"Flutuando como um barco nas águas,
Fui jogado numa bolsa escura,
E num mar infinito, fiquei à deriva.
Logo quando estava sufocando, tive um bom agouro,
E o mestre dos céus me libertou."

A maioria das preces Celtas são compostas de versos, rimas e suas estruturas lembram o que nós conhecemos como sendo poesias. Ainda hoje, aqueles que praticam a Grande Arte escrevem versos para homenagear a Deusa e o Deus.
Por isso, os pagãos ainda consideram a poesia como sendo um presente dos Deuses!!!

Prece para a Lua Negra

Segue a marcha dos dias
Suspensa sobre a realidade alta
Nuvem vagando horizontes alheios
Janela do céu, aberta para meus olhos
E o vento soprando ilusões tão minhas!

Venha Lua, banhar-me com tua magia
Venha Lua, vestir-me com tuas fantasias

Deixa sorrir o silêncio da noite clara
Deixa florescer o segredo junto a minh´alma
Cristais de ébano
liberdade?

Eu canto em teu nome
…tu és o meu amanhã sereno
Eu sou o teu passado
Identidade que não se apaga!


Fonte: Casa do Mago