Ela ainda é vista com reservas por alguns, mas basta afinar o olhar para perceber que a bruxaria moderna é, na verdade, uma filosofia fascinante e repleta de luz, que vale bem a pena conhecer. Então, conheça-a!
Religião. Se você logo pensou em temor a Deus, pecados e redenção pelo sofrimento, enganou-se. O amor incondicional à natureza, o prazer e a alegria de viver são os princípios de uma crença inspirada em uma das mais antigas religiões do mundo: a bruxaria.
A wicca, ou bruxaria moderna, surgiu essencialmente do paganismo e dos mitos e divindades celtas, gaulesas e irlandesas, além de diversas tradições populares europeias. Os wiccanianos acreditam na Deusa Mãe e no Deus Cornífero, no equilíbrio e polaridade das energias e na magia como forma de colocar o homem em contato direto com a natureza. Assim, seus adeptos tentam resgatar o verdadeiro sentido da palavra “religião”, que tem como raiz o termo religare. Ou seja, pretendem religar o homem à sua origem, a natureza.
As origens da wicca podem ser encontradas no período Neolítico, divididas entre diversos povos, como os romanos, gregos, normandos e, principalmente, celtas. Ao invadir a Europa, os celtas levaram consigo suas crenças, que se fundiram à cultura dos povos locais e deram início a muitas das práticas presentes hoje na wicca.
Mas, durante quase dois mil anos, a religião dos povos pré-cristãos da Europa permaneceu adormecida. Foi apenas na década de 40, já no século 20, que ela ressurgiu e ganhou a denominação wicca. Em 1951, então, a bruxaria moderna se tornou uma religião oficial, com a revogação das leis inglesas que até então proibiam práticas de magia.
Girar, moldar, dobrar
A palavra “wicca” vem do saxão wich ou do inglês arcaico wicce, que significam “girar, moldar ou dobrar”. Outra origem citada pelos estudiosos do assunto seria o termo germânico wit, que quer dizer “saber”. A união das duas significações resulta na definição da wicca como: “a sabedoria de girar, dobrar e moldar as forças da natureza a favor do homem”, conforme escreve o bruxo Claudiney Prieto no livro Ritos e mistérios da bruxaria moderna.
Os bruxos modernos procuram reviver o culto à Deusa e ao Deus que, na tradição celta, representam as duas forças primárias veneradas e invocadas em seus rituais. “A wicca é uma religião panteísta, ou seja, reconhece o sagrado em todas as coisas. Nela, os deuses e a natureza são unos e, assim, o mundo torna-se divino e sagrado”, explica Prieto.
A bruxaria moderna é baseada nos ciclos da natureza, na magia positiva e nos rituais de harmonização pessoal por meio das forças naturais, das fases lunares e das quatro estações do ano. Essas crenças foram muito deturpadas e ganharam uma cara de "viagem" ao longo da História – a maior responsável por isso foi a Igreja Católica, que viu nas práticas pagãs uma ameaça ao seu poder na Europa. Hoje, a wicca tenta resgatar essa sabedoria ancestral e os rituais antigos.
Ao contrário do que muitos pensam, os feitiços e rituais de magia não se tratam de práticas malignas realizadas para prejudicar alguém. São apenas formas de os bruxos e bruxas estabelecerem contato com os deuses para alcançar o equilíbrio e a realização. “Todas as religiões praticam magia, embora não admitam isso. Seja um católico quando acende uma vela em louvor a um santo ou uma bruxa quando realiza um feitiço, ambos estão praticando magia, uma vez que desejam modificar uma situação de acordo com seu desejo”, afirma Prieto.
A wicca ensina que o verdadeiro poder mágico reside dentro de cada um e está presente em todos os lugares. Os wiccanianos são livres para usar esse poder, desde que em harmonia com a natureza e respeitando a Lei Tríplice e o Dogma da Arte. A primeira diz que “tudo o que uma pessoa faz, para o bem ou para o mal, retorna triplicado para sua vida, ainda nessa encarnação”, e a segunda prega o livre arbítrio, uma vez que as atitudes não prejudiquem nada nem ninguém.
Quando usada corretamente, a magia também é um dos instrumentos de conexão com o sagrado. Na tradição wicca, todos os humanos possuem habilidades mágicas natas, que não têm nada de sobrenaturais. “Para bruxas, usar magia é exercitar o poder pessoal que procuramos por meio do conhecimento e da disciplina. Fazemos feitiços sempre que queremos que algo aconteça, tendo sempre em mente o bem de todos os envolvidos”, diz Tauret Panthea, vice-presidente da Abrawicca (Associação Brasileira de Arte e Filosofia da Religião Wicca).
Quero ser uma bruxa
Existem muitos cursos de magia, professores e iniciadores, mas eles nem sempre transmitem informações sérias e confiáveis. Por isso, a maioria dos wiccanianos opta por estudar sozinhos. “Nada impede que um bruxo ou bruxa estude ou pratique magia sem a ajuda de um instrutor. Existem muitas fontes de ensinamentos, como livros, sites e fóruns de discussão na Internet”, orienta Prieto.
Dica da bruxa: “O primeiro passo para quem deseja iniciar-se na bruxaria é conhecer a wicca de verdade para saber se essa religião está de acordo com suas crenças e expectativas. Muitas vezes, as pessoas acreditam que a bruxaria é muito mais do que realmente é e se frustram. Outra recomendação é frequentar rituais e palestras em locais como a Abrawicca e o parque do Ibirapuera, em São Paulo, onde mensalmente, em uma noite de Lua Cheia, é realizado um ritual público.
Depois de tudo isso, o ideal é procurar ajuda com bruxos mais experientes para ver o caminho ideal a ser seguido. É possível trabalhar em um grupo de bruxos ou como bruxa solitária”, recomenda Tauret Panthea. Como a própria religião sugere, as escolhas cabem a cada um, assim como suas consequências.
"Deves obedecer a Lei
Wiccana,
Em perfeito amor e perfeita
confiança.
Cumpre essas oito palavras da Rede do
Wiccano,
Contanto mal não haja, fazei o que
quiserdes.
E lembra sempre da Regra
Tríplice,
O que fizerdes a ti
retornará.
Segue isso com a mente e o
coração,
E feliz te reunirás e feliz partirás."
Lívia Filadelfo