quinta-feira, 22 de agosto de 2019

"A Bruxa Perfeita"...


Agora que tenho aqui muitas de vocês reunidas e a tarde chuvosa se empresta a contos e histórias, vou contar um segredo. A lareira está acessa, o tapete coberto de almofadas e a caneca está cheia de chá quentinho e delicioso, por isso, juntem-se a mim e ouçam, vou contar um segredo...
A bruxa perfeita, essa que sabe o que fazer exatamente em cada momento, aquela que conhece todas e cada uma das ervas e seus poderes exatos, aquela que sabe em cada momento sem olhar seu grimório em que fase exata do crescente da lua estamos e em que momento soprará o vento do sul, o dia indicado para fazer o feitiço que precisamos. Aquela que conhece todas as particularidades de todas as Deusas de todas as mitologias, aquela que expressa uma verdade incontestável cada vez que abre a boca e a que nunca se lhe apagam as velas. Sim, essa! Aquela que parece estar em conexão constante com o outro lado do véu e vê continuamente os mistérios da vida. A etérea e mística que jamais se exalta e é sempre dona de suas emoções. Aquela que sempre tem uma resposta... essa bruxa, que sabe de tudo e é etérea e perfeita, ouçam-me bem, essa bruxa... Não existe...
Nós bruxas somos, como todas as outras, mulheres. humanas. E como tal, podemos estar estar erradas as vezes. Nós tomamos decisões erradas e cometemos erros. Às vezes nos resta a mente em branco e esquecemo-nos de uma invocação durante um ritual. Ou não temos ideia de que para que é usada uma certa erva na magia. Às vezes há coisas que simplesmente não conhecemos e não acontece nada por dizer abertamente: Eu não sei. Às vezes nos colocamos nervosas, algumas coisas nos dão medo, e choramos de tristeza.
Também temos defeitos, em alguns casos muitos, e trabalhamos para melhorá-los, claro. Às vezes somos um pouco preguiçosas, algumas somos impacientes e outras um pouco atrasadas. Às vezes as circunstâncias nos superam e explodimos como todos e precisamos de uma pausa, ou simplesmente não nos apetece ser sociáveis em um momento dado, mas não nos auto punimos por isso. Admitimos que esses defeitos fazem parte de nós e os aceitamos como traços da nossa personalidade que devemos aprender para melhorar.
Também não somos seres místicos a todas as horas, pelo menos a maioria, e gostamos de desfrutar dos prazeres terrenos. Gostamos de um bom vinho, uma cervejinha com os amigos, uma boa comida, o sexo, o riso e as festas. E não é por isso que devemos nos sentir culpados nem pensar que estamos nos afastando do nosso caminho espiritual. Não acontece nada se em vez de serem bruxas tranquilas, seguras somos passionais e apaixonadas, vulcânicas, vigilantes que se rebelam diante daquilo que consideramos inaceitável, não acontece nada se é a mulher selvagem a que vive dentro de nós.
Também não devemos nos sentir culpadas ou menos bruxas se não saímos para correr nuas pelas florestas cada lua cheia. Não se passa nada se o fizermos vestidas. Não acontece nada se ao invés de correr passeamos. Não acontece nada se durante uma temporada as nossas responsabilidades nos mantêm afastadas da floresta. Iremos quando pudermos, ela nos espera e sabe que retornaremos. Não acontece nada se a nossa natureza é tranquila e não sentimos o impulso de gritar e sermos selvagens, se somos reflexivas e tranquilas e não se sentem à vontade nos confrontos.
Não acontece nada...
E também não acontece nada se às vezes nos desequilibramos pela introspecção, o silêncio e a meditação e outras vezes queremos uivar à lua e dançar e rir até ficar afônicas. Ninguém disse que você deve ser sempre da mesma forma, impassíveis e estática como as rochas. É bom dançar ao som dos nossos ventos interiores, no ritmo que marque o nosso coração a cada momento. É bom seguir o nosso sangue fluindo pelas nossas veias, lenta e firmemente às vezes, rápida e tumultuada outras.
O importante, o que realmente vai te transformar em grande bruxa, é que você seja vocês a cada momento. Que se dêem a permissão para ser, com todos os seus defeitos e virtudes, e que não permita que ninguém te diga se é ou não boa bruxa porque não vai agir como os outros esperam que seja. Se você realmente procura ser melhor como pessoa, se você é sincera e honesta com os outros e com você mesma, se você se esforça para que seus feitiços e sua magia sejam cada dia melhores, se trabalha e estuda para aprender (ou lembrar) o caminho da magia, com as suas crenças e com ela, então será uma boa bruxa. Não importa se você o faz gritando desde o centro do seu útero curando as feridas da sua linhagem e curtindo a liberdade e o retorno à natureza selvagem. Ou se você o faz na meditação durante um ritual calmo e estruturado. O que importa é que você o faça, e que você seja você.
Ninguém pode dizer como é a bruxa perfeita. Ninguém pode julgar a sua maneira de andar por este caminho. Ninguém pode exclui-la deste mundo mágico por não fazer as coisas da maneira que os outros pensam que é a única. Porque não há uma única maneira de ser bruxa, mas tantas como bruxas existimos. Nunca se sintam menos do que ninguém. Nunca deixem que te façam sentir culpados por não ser como outras, porque não há gurus, apenas guias.
E porque, e agora que já disse, já não é um segredo, a bruxa perfeita não existe.
Por favor, não me guarde esse segredo...


WitchWolf