Quando nos relacionamos coma a nossa faceta deusa tríplice, teremos uma perturbação inicial causada pela sua mutabilidade. Séculos de pensamento abstrato, unidimensional, rígido e patriarcal lutam contra ela, rejeitando o seu impulso por considerá-lo caótico e causador de anarquia interior. Mas ao mudarmos interiormente e ao adaptarmos os padrões da nossa alma às suas energias formadoras, vê-la-emos com maior clareza. Poderemos então valorizar uma consciência da mudança cíclica do nosso interior. Tendo chegado a uma relação interior com o Feminino, podemos iniciar o processo de unir as facetas masculina e feminina da nossa alma. Essa união, o verdadeiro Casamento Místico, a real Conjunção dos Opostos, é a mais estimulante e valiosa aventura que qualquer ser humano pode empreender. A partir dessa Conjunção, dessa integração e encontro íntimos, poderá surgir uma poderosa corrente de energia criativa que poucos experimentaram. Se a humanidade pudesse dedicar-se coletivamente a essa viagem, uma grande energia criativa seria liberada - e poderíamos tornar-nos verdadeiros recipientes das energias espirituais do futuro.
Para encontrar a deusa tríplice na mitologia, temos de voltar ao substrato do mito. Bem antes da ascendência do mito de Cristo, os mitos primais da deusa foram esmagados sob o peso de gerações de deuses masculinos que usurparam o seu lugar no esquema das coisas, conquistando os seus centros sagrados e tomando para si mesmos algumas facetas dos seus atributos. Se remontarmos aos mitos primevos da humanidade, encontraremos a deusa na sua forma mais pura, normalmente tríplice. No Antigo Egito, é Neith/Nut e, mais tarde, Ísis, que a representam para nós.
Observamos que o culto e o reconhecimento de Ísis se mantêm fortes, embora comece, em dinastias egípcias posteriores, uma masculinização da hierarquia dos deuses com Âmon-Rá. Na Grécia Antiga, os primeiros mitos esboçavam muitas manifestações da Deusa. Quem estudou mitologia grega pode ver que, provavelmente no início do primeiro milênio antes da era comum, o deus celeste Zeus-Dyeus foi levado para a Grécia por uma nova onda migratória. A partir de então, o caráter dos mitos gregos se transformou de alguma maneira quando Zeus, por meio da violação e da astúcia, destronou a Deusa de muitos de seus centros de culto. Ele teve filhos com Deusas individuais - mas esses filhos eventualmente reuniram em si alguns atributos da mãe. Portanto, podemos ver que os povos gregos desse ponto de transição precisaram identificar-se antes com deuses masculinos do que com as deusas mais antigas, razão por que reformularam sua mitologia a fim de se adaptarem. Mas esse processo é bem transparente, pois os estudiosos podem identificar essas mudanças nos mitos e, eliminando as influências mais recentes, recuperar a essência das deusas primais.
Na realidade, a mitologia grega nos fornece a maior fonte de materiais sobre a Deusa. Para exemplificar o processo, consideremos Apolo. Apolo é gerado por Zeus e Leto, uma deusa titã pertencente ao antigo substrato de deuses e deusas que existia na Grécia antes de Zeus e de sua consorte Hera. Hera tem ciúmes do relacionamento de Zeus com a deusa mais antiga e tenta impedir Leto de dar à luz, mas esta foge para uma ilha distante. Lá, pare Apolo e sua irmã gêmea Ártemis. Apolo é um deus solar e Ártemis torna-se a deus virgem caçadora da luz lunar. Apolo recebe o dom da música e muitos mitos falam dele como a fonte da inspiração, tocando a sua lira.
Contudo, embora fosse um deus popular entre o povo grego, Apolo de certo modo nunca pôde ocupar o lugar das Musas que o precederam, representantes da forma trinitária da Deusa. As musas permaneceram como a inspiração espiritual feminina presente na música, na poesia e nas artes. Podemos ver que o culto de Apolo tenta substituir as Musas por um deus masculino, mas a psique coletiva dos povos gregos não poderia desisitir de suas deusas da inspiração com muita facilidade. Assim sendo, Apolo, em vez de ser o rival das Musas, teve que se tornar seu protetor.
Podemos identificar muitos outros exemplos dessas tentativas de substituição de dusas das mitologias precedentes por divindades masculinas. A mitologia grega mostra especial transparência quanto a isso, provavelmente por ter sido registrada enquanto esses processos se desenvolviam. Outras mitologias, dos povos teutônicos ou escandinavos, por exemplo, só foram registradas séculos ou até milênios depois do término desses processos, sendo mais difícil de deslindar as suas linhas e de identificar os primeiros estratos das deusas nessas culturas.
Baseado no livro de Adam Mclean, A Deusa Tríplice
Para encontrar a deusa tríplice na mitologia, temos de voltar ao substrato do mito. Bem antes da ascendência do mito de Cristo, os mitos primais da deusa foram esmagados sob o peso de gerações de deuses masculinos que usurparam o seu lugar no esquema das coisas, conquistando os seus centros sagrados e tomando para si mesmos algumas facetas dos seus atributos. Se remontarmos aos mitos primevos da humanidade, encontraremos a deusa na sua forma mais pura, normalmente tríplice. No Antigo Egito, é Neith/Nut e, mais tarde, Ísis, que a representam para nós.
Observamos que o culto e o reconhecimento de Ísis se mantêm fortes, embora comece, em dinastias egípcias posteriores, uma masculinização da hierarquia dos deuses com Âmon-Rá. Na Grécia Antiga, os primeiros mitos esboçavam muitas manifestações da Deusa. Quem estudou mitologia grega pode ver que, provavelmente no início do primeiro milênio antes da era comum, o deus celeste Zeus-Dyeus foi levado para a Grécia por uma nova onda migratória. A partir de então, o caráter dos mitos gregos se transformou de alguma maneira quando Zeus, por meio da violação e da astúcia, destronou a Deusa de muitos de seus centros de culto. Ele teve filhos com Deusas individuais - mas esses filhos eventualmente reuniram em si alguns atributos da mãe. Portanto, podemos ver que os povos gregos desse ponto de transição precisaram identificar-se antes com deuses masculinos do que com as deusas mais antigas, razão por que reformularam sua mitologia a fim de se adaptarem. Mas esse processo é bem transparente, pois os estudiosos podem identificar essas mudanças nos mitos e, eliminando as influências mais recentes, recuperar a essência das deusas primais.
Na realidade, a mitologia grega nos fornece a maior fonte de materiais sobre a Deusa. Para exemplificar o processo, consideremos Apolo. Apolo é gerado por Zeus e Leto, uma deusa titã pertencente ao antigo substrato de deuses e deusas que existia na Grécia antes de Zeus e de sua consorte Hera. Hera tem ciúmes do relacionamento de Zeus com a deusa mais antiga e tenta impedir Leto de dar à luz, mas esta foge para uma ilha distante. Lá, pare Apolo e sua irmã gêmea Ártemis. Apolo é um deus solar e Ártemis torna-se a deus virgem caçadora da luz lunar. Apolo recebe o dom da música e muitos mitos falam dele como a fonte da inspiração, tocando a sua lira.
Contudo, embora fosse um deus popular entre o povo grego, Apolo de certo modo nunca pôde ocupar o lugar das Musas que o precederam, representantes da forma trinitária da Deusa. As musas permaneceram como a inspiração espiritual feminina presente na música, na poesia e nas artes. Podemos ver que o culto de Apolo tenta substituir as Musas por um deus masculino, mas a psique coletiva dos povos gregos não poderia desisitir de suas deusas da inspiração com muita facilidade. Assim sendo, Apolo, em vez de ser o rival das Musas, teve que se tornar seu protetor.
Podemos identificar muitos outros exemplos dessas tentativas de substituição de dusas das mitologias precedentes por divindades masculinas. A mitologia grega mostra especial transparência quanto a isso, provavelmente por ter sido registrada enquanto esses processos se desenvolviam. Outras mitologias, dos povos teutônicos ou escandinavos, por exemplo, só foram registradas séculos ou até milênios depois do término desses processos, sendo mais difícil de deslindar as suas linhas e de identificar os primeiros estratos das deusas nessas culturas.
Baseado no livro de Adam Mclean, A Deusa Tríplice
Por Marisa Petcov