terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A Roda do Ano: os Esbats e Sabbats


Antigamente, quando o Deus e a Deusa eram tão reais quanto o Sol e a Lua, os rituais eram desestruturados - eram uma comunhão alegre e espontânea com o Divino. Depois, os rituais passaram a observar o ciclo do Sol através do ano astrológico e das estações, e também dos ciclos lunares mensais.
Atualmente, rituais parecidos são observados pela Bruxaria - e estas celebrações criam uma proximidade mágica com as Deidades e com o poder por trás delas.
A finalidade primordial da Bruxaria é estar em harmonia com a Natureza e com as energias divinas contidas nela. E a melhor forma de alcançar esta harmonia é a observação dos ciclos naturais. É para isso que servem os Esbats e Sabbats. 

"Esbat" é o nome de cada uma das reuniões (ou celebrações solitárias) mensais, no primeiro dia da Lua Cheia ou da Lua Nova de cada mês. Nestas datas são celebrados os ciclos lunares; a finalidade básica dos Esbats é a celebração os ciclos da Deusa, em seus três aspectos: Donzela, Mãe e Anciã (Crescente, cheia e Minguante). Além disso, são épocas propícias para as reuniões, a editação e o estudo. 

"Sabbat" é a denominação de cada um dos 8 grandes festivais solares que acontecem anualmente e que marcam a Roda do Ano das Bruxas.
Durante os Sabbats são celebrados, em grupo ou solitariamente, os ciclos do nascimento, maturidade, morte e renascimento do Deus, e sua profunda relação com a Deusa.
Mais um esclarecimento importante: Sabbat não é sinônimo de missa negra. Não custa repetir: não é usado nenhum símbolo ou objeto cristão. Nenhuma oração cristã é lida - nem de trás para frente nem de frente para trás. Não são feitos nem sacrifícios nem orgias.
Para entender melhor a Roda do Ano celebrada pelos Sabbats, podemos olhar para os períodos demarcados pelas 4 estações: 

Durante o inverno, as árvores estão sem suas folhas, os animais se recolhem, os dias são muito curtos e as noites, longas. Lentamente, conforme os dias vão ficando mais longos e a primavera se aproxima, a Natureza parece se espreguiçar. É a época de preparar o solo. Com a chegada do verão, a Natureza explode em vida e fertilidade. É a época de semear. Enquanto o ano continua sua roda, o outono chega e, novamente, as folhas começam a cair. É a época de colher e armazenar para o inverno que novamente se aproxima.
Mesmo que aqui, no hemisfério sul - principalmente no nosso país tropical e bonito por natureza - as estações não sejam tão claramente definidas, dá para observar as mudanças sutis que acontecem. É só prestar atenção. Quem já viveu ou passou longas férias no interior sabe disso. As estações, as épocas de preparar a terra, de semear, de plantar e colher são super bem definidas.

Os Sabbats 

SAMHAIN - Celebrado em 1o. de maio no hemisfério sul e em 31 de outubro no hemisfério norte (Obs.: a pronúncia é "Sôu-en")
YULE - Solstício de Inverno - Celebrado no primeiro dia do inverno (+ ou - 21 de junho no hemisfério sul e 21 de dezembro no hemisfério norte)
IMBOLC (ou Imbolg) - Celebrado em 2 de agosto no hemisfério sul e 2 de fevereiro no hemisfério norte
EOSTAR (ou Ostara) - Equinócio de Primavera - Celebrado no primeiro dia da primavera (+ ou - 21 de setembro no hemisfério sul e 21 de março no hemisfério norte)
BELTANE - Celebrado em 31 de outubro no hemisfério sul e 1o. de maio no hemisfério norte
LITHA - Solstício de Verão (Mid Summer) - Celebrado no primeiro dia do verão (+ ou - 21 de dezembro no hemisfério sul e 21 de junho no hemisfério norte)
LUGHNASAD (ou Lammas) - Celebrado em 2 de fevereiro no hemisfério sul e 2 de agosto no hemisfério norte 

MABON - Equinócio de Outono - Celebrado no primeiro dia do outono (+ ou - 21 de março no hemisfério sul e 21 de setembro no hemisfério norte)
Eu aprendi muito a respeito da Roda do Ano através da simples observação de uma árvore específica. Dei a sorte de encontrar um carvalho perto de onde moro (o meu carvalho!) - e o carvalho é uma árvore quase emblemática deste ciclo. Observando sua metamorfose, da opulência à escassez, e dos brotos e sementes que levam novamente à opulência, eu tenho tido uma ilustração viva, há muitos anos, da eloquência deste ciclo infinito.
A lição principal que eu aprendi com esta observação foi a troca das datas dos Sabbats para que se adequassem à realidade do hemisfério sul.
Eu costumava celebrar os Sabbats de acordo com o calendário da Inglaterra, e a época do Yule estava chegando. Eu já estava me preparando para a celebração, quando passei "por acaso" na frente do meu carvalho: ele estava frondoso, exuberante, cheio de folhas, cheio de vida, pulsando de fertilidade! E sob um calor tropical de quase 35 graus, em Dezembro!
Para tentar entender os rituais, em primeiro lugar, não podemos deixar de lado o conceito de que as celebrações atuais são baseadas em rituais Celtas extremamente antigos (eles têm muito, mas muito mais do que os meros 2000 anos do cristianismo...), e que tiveram origem em uma época em que a atividade básica de subsistência era a agricultura.

Vamos começar pelo SAMHAIN, em 1o. de maio. Este Sabbat marca o início, o prenúncio da estação da morte: o Inverno. Representa a morte simbólica do Deus e, na Natureza, a estação menos fértil - a Deusa está sem seu consorte!
O Samhain também era a antiga festa celta dos mortos. Na tradição céltica, o Samhain era a noite da morte e da ressurreição: os mortos precisavam esperar até esta data para fazer a travessia para o "País do Verão", onde a esperança de uma nova vida os aguardava - por isso, na Bruxaria, esta é a época em que e sabe que os véus entre os mundos ficam mais tênues. É um tempo de reflexão, de olhar para o que foi feito no ano anterior, e uma época de lembrar os antes queridos que já foram para outros planos.
A noite do Samhain é considerada, pelas Bruxas, como a noite de ano novo por esta conotação de "passagem" da morte para a promessa de uma nova vida de abundância.
A data do Samhain da tradição céltica era tão forte no hemisfério norte (31 de outubro) que foi adaptada pelo cristianismo, na Idade Média, e transformou-se na "noite de todos do santos", ou "noite de todas as almas" (Halloween, em inglês, é uma corruptela de All Hallows Eve, ou "noite de todas as almas"), celebrada até hoje...

O Sabbat seguinte é o YULE, celebrado na noite do Solstício de Inverno, perto de 21 de Junho. Uma vez que nesta data ocorrem a noite mais longa e o dia mais curto do ano, e sendo o Sol uma das representações do Deus, o Yule marca a época do ano em que o Deus renasce - porque, a partir do Solstício, as noites ficarão progressivamente mais curtas, e os dias (a presença do Sol) mais longos.

O IMBOLC, em 2 de agosto, é um Sabbat de purificação depois das privações do Inverno. É uma época de celebração ao calor que aquece a Terra através do poder renovado do Sol, que renasceu da Deusa no Yule. Os dias são mais longos e o início da Primavera pode ser sentido na Natureza, que parece se espreguiçar. É um festival de fogo, luz e fertilidade, em que as fogueiras e muitas velas são acesas, representando tanto a nossa própria iluminação pessoal quanto a luz e o calor que estão aumentando.

O Equinócio de Primavera, EOSTAR, marca o primeiro dia da Primavera (perto de 21 de Setembro). As energias da Natureza sutilmente emergem do sono em que estiveram mergulhadas durante o Inverno. A Deusa cobre a Terra de promessas de fertilidade, enquanto o Deus - renascido no Yule - começa a passar da infância para a maturidade. Em Eostar, a duração da noite e do dia são iguais. A luz começa a vencer a escuridão; o crescimento do Deus e a receptividade da Deusa inspiram as criaturas na Terra a se reproduzir. É a época de iniciar, de agir, de plantar as sementes para o futuro.

BELTANE, em 31 de outubro, representa a entrada do jovem Deus para a idade adulta. Incitados pelas energias da Natureza, pela força das sementes e flores que desabrocham, a Deusa e o Deus apaixonam-se. Nesta data são celebrados rituais de fertilidade e imensas fogueiras são acesas. As fogueiras de Beltane simbolizam o calor da paixão e a intensidade da interação entre a Deusa e o Deus, e a crescente fecundidade da Terra.

O Solstício de Verão, ou LITHA (perto de 21 de dezembro), é celebrado quando o poder e a força da Natureza chegam ao seu ponto mais alto. A Terra está repleta e abundante com a fertilidade da Deusa e do Deus. Mais uma vez, são acesas fogueiras homenageando a energia do Sol, que atinge seu ápice: esta é a noite mais curta e o dia mais longo do ano.

LUGHNASAD, em 2 de fevereiro, é a época da primeira colheita, quando as sementes plantadas na Primavera dão os primeiros frutos ou geram outras sementes que vão assegurar os resultados futuros. Mas o Deus começa a perder sua força e, assim, os dias começam a ficar mais curtos e as noites mais longas.

O Equinócio de Outono, ou MABON (primeiro dia do Outono, perto de 21 de março), representa a plenitude da colheita iniciada no Lughnasad. Mais uma vez, o dia e a noite têm uma duração igual. A Natureza começa a declinar, preparando-se para o Samhain que se aproxima, preparando-se novamente para o Inverno, a época do recolhimento... e para um novo ciclo que começa.
Os Sabbats são uma forma fantástica de conhecer, respeitar e celebrar os ciclos naturais que quase todo mundo nem vê passar... e são uma chance única de aprender a sintonizar e harmonizar a própria vida, os próprios ciclos vitais, com as energias do Todo.

Casa do Bruxo