segunda-feira, 16 de julho de 2018

AS DEUSAS TECELÃS parte 2


Continuação...

Criar pode ser prazeroso, mas o ato da criação, assim como a gestação da ideia ou sentimento pode trazer dor e sofrimento. Mesmo quando esteticamente belas, nossas produções podem denunciar os aspectos mais sombrios de nossa alma. Para criar, é preciso ter coragem, principalmente para destruir o que já é conhecido e organizado, para buscar novas configurações.  No entanto, depois e enquanto fazemos um trabalho criativo, podemos, além de vivenciar o prazer e as dificuldades na sua realização, nos tornar mais conscientes do nosso funcionamento psíquico. Quando não é utilizada adequadamente, a energia psíquica disponível para o desenvolvimento da consciência, para o processo de individuação e para a criação, pode se tornar veículo de sofrimento e destruição.
 A natureza feminina é representada pela Grande Mãe primordial, detentora dos poderes de criação e destruição, de morte e vida e Senhora do Destino. Podemos estabelecer uma relação profunda com Ela, a partir do momento em que buscamos o autoconhecimento. Assim, temos a chance de reconhecer os propósitos de nossas vidas, tendo então as Suas bênçãos para tecermos a nossa teia pessoal, ampliando os fios das relações com os outros e com o mundo. Porém, se insistirmos em viver num mundo de ilusões, nos distanciando de nós mesmas, fatalmente a Deusa retificará o nosso destino.

 A vivência do arquétipo da Grande Mãe como Tecelã do Destino é extremamente importante para homens e para mulheres. Por seu duplo aspecto, positivo e negativo, tanto pode  estimular  a enfrentar as dificuldades, como impedir de lutar pela realização de  desejos e necessidades. Se o Destino for vivenciado como promissor, pode estimular o investimento de energia para alcançar as metas; mas, se for  vivenciado como vazio ou trágico, pode levar à  desistência  e ao fracasso. Em contraposição a esse aspecto de fatalidade, o Destino pode ser percebido e aceito como resultado das escolhas que vão sendo tomadas ao longo da Vida, do potencial de responsabilidade realizado, ou não. Cada uma de nós pode, sem desafiar a Grande Tecelã, assumir seu pequeno tear individual e fiar, tecer, narrar, mudar e criar sua própria história.


"Teça Senhora, teça e nos entrelace juntos numa união de amor,
Temos muitas cores e texturas, cada uma diferente da outra,
Mas com a sua arte podemos ser entrelaçados em uma única tapeçaria.
Somos instrumentos diferentes, tocando cada um a sua melodia,
Com notas e tons diferentes
Mas todos juntos seremos unidos em uma só sinfonia,
Cada um saudando no outro
A essência sagrada de uma grande família." - Rosemary Crow

"Lindo trabalho esse de mulheres fiadeiras,
mulheres aranhas,
que com suas mãos,
tecem mantos de luz para proteger o mundo mágico da criação.
Mulheres em ação,
sem manhas, nem tramas e artimanhas
apenas tecelãs sábias,
dos tempos de todas as luas,
minguantes, novas,
crescentes de luz e poder
                     e finalmente plenas, cheias de encanto e amor." - Eliane Dornellas 

Mirella Faur