“Eu vivo, porém não viverei para sempre.
Somente a Mãe Terra vive eternamente”
Somente a Mãe Terra vive eternamente”
(Canção dos índios Kiowa)
A morte faz parte do ciclo da vida, assim como o dia alterna-se com a noite, a luz com a sombra. A sombra da proximidade da morte nos permite compreender e respeitar o delicado equilíbrio da vida. Assim, seremos capazes de aceitar a continuidade da vida nos nossos descendentes, pois nós também somos a continuação da linhagem ancestral. As gerações nascem, crescem, florescem, amadurecem e decaem, feito frutos de uma mesma árvore, transformando-se no adubo rico necessário para a próxima colheita. Venerar os ancestrais mantém viva a conexão entre as gerações, os vivos reconhecendo e agradecendo àqueles que trilharam antes os caminhos, abrindo portas e deixando o legado das suas experiências e realizações.
De uma forma ou de outra, todas as antigas culturas do hemisfério Norte reverenciavam os mortos, com celebrações e oferendas realizadas no final do outono, quando a própria natureza entrava em declínio. Festejavam-se ao mesmo tempo a última colheita, o abate dos animais para garantir a sobrevivência humana durante os meses de inverno e a lembrança daqueles que tinham passado para o mundo dos espíritos, ao longo do ano.
Os nomes das comemorações dos ancestrais variavam de um país para outro – “Pitra Visarjana Amavasya”, na Índia; “O Dia das almas errantes”, no Tibet; “Festival Obon”, no Japão; e “A festa dos fantasmas famintos”, na China. Na África, em Daomé (atual Benim), celebrava-se “colocar a mesa”; na Sicília, na festa dos “I Morti” as mesas eram postas com “armuzzi” – “as mãos do morto” modeladas em massa de pão, enquanto no resto da Itália os doces de clara de ovo com amêndoas e açúcar eram chamados de “ossi di morti”. No México, até hoje, os familiares fazem piquenique nos cemitérios, levando para os túmulos, enfeitados com guirlandas de calêndulas, os pratos e as bebidas preferidas dos falecidos.
O dia de Los Muertos mexicanos não é uma comemoração macabra ou grotesca, mas uma maneira alegre, divertida e espontânea de reconhecer a inevitabilidade da morte. Ela aparece nos brinquedos das crianças (representada como soldado, herói, policial, médico, dentista, jogador de bola, professor, noivo ou noiva), nos enfeites de açúcar e nos doces, modelada como caveira ou esqueleto e nas “calaveras” – cartões e imagens de caveiras coloridas com dizeres engraçados trocados entre os amigos. Todos têm um esqueleto, todos vão acabar no cemitério, portanto, é melhor se acostumar desde criança com esta realidade.
As datas dos festivais dos mortos também diferiam de uma cultura para outra. No Egito, a baixa do Rio Nilo, em novembro, marcava o início de “Isia”, a celebração de seis dias que lembrava a morte do deus Osíris. Procissões, drama sagrado, cânticos e danças reencenavam a sua morte e ressurreição, bem como a celebração do retorno das almas para visitar seus familiares. Lamparinas iluminavam suas antigas moradias e os caminhos para orientá-las, os templos e as casas eram enfeitados com flores e oferendas de comidas e bebidas. Do Egito, este costume se espalhou pela Europa e foi preservado e adaptado pelos povos celtas. Por serem povos pastoris, os celtas dividiam o ano em duas estações – o verão, quando o gado era levado para os pastos, e o inverno, quando era trazido de volta.
“Samhain” (pronunciado “souen”) era o festival celta dos mortos celebrado no dia 31 de outubro, considerado o primeiro dia de inverno e o início do Novo Ano. Neste dia, os véus entre os mundos se tornavam mais tênues, as almas transitavam mais facilmente de um lado para outro. Além dos familiares mortos, outros seres se manifestavam nesta noite – fadas escuras, elfos, almas perdidas, espíritos zombeteiros. Para se protegerem deles, os celtas usavam máscaras de animais e acendiam fogueiras nas colinas para guiarem os espíritos dos seus ancestrais de volta para suas antigas casas, enfeitadas com lamparinas de abóbora ou nabo colocadas nas janelas e nas portas. Durante séculos, o cristianismo tentou, em vão, suprimir os festejos de três dias do Sabbat Samhain. Por não conseguir, apelou para o sincretismo religioso, criando o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados, sobrepondo a data cristã ao antigo festival pagão.
Os milhões de emigrantes europeus (principalmente irlandeses que estavam sem meios de sobrevivência após a grande fome de 1846) levaram para sua nova pátria – os EUA – seus costumes e práticas ancestrais. Surgiu, assim, a festa profana de Halloween, pela metamorfose dos significados antigos (máscaras, fantasmas, lanternas, comidas), disfarçados em apresentações caricaturais (bruxas, chapéus pontudos, perucas coloridas, vassouras, lanternas de abóboras, caça aos doces – este costume sendo uma reminiscência do hábito antigo de dar esmolas aos pobres e comida para as almas). O comércio e Hollywood contribuíram, em muito, para tornar o antigo festival Samhain em festa folclórica, infantil ou em um simples baile de máscaras. Mesmo assim, alguns povos ainda preservam de forma autêntica as tradições dos seus ancestrais. Os nativos norte-americanos celebram até hoje, na primeira lua cheia após o solstício de inverno, o retorno dos Kachinas – os espíritos dos seus antepassados, com o Festival Soyal, que inclui danças com máscaras, fogueiras e oferendas.
No Japão, o Festival Obon é celebrado durante 18 dias, requerendo uma esmerada preparação prévia dos templos, jardins, casas para a recepção dos “shugoray” – os espíritos dos ancestrais. As famílias se reúnem e invocam os espíritos com danças circulares que induzem a um estado de transe, facilitando percepções paranormais e manifestações de ectoplasmia e telecinésia. Antes de Obon, os familiares vão em peregrinação para os cemitérios, limpam a área, plantam flores e deixam oferendas de comidas, bebidas e imagens de cavalos (para ajudar o deslocamento dos espíritos entre os mundos).
No último dia do Festival, os ancestrais estão sendo encorajados para voltar para a “Terra dos Mortos” e enormes fogueiras são acesas para lhes iluminar o retorno. Deste amálgama de informações e costumes, cada pessoa pode criar uma homenagem pessoal para seus antepassados, seja criando um pequeno altar na sua casa (colocando fotos, objetos, lembranças no canto especificado pela sabedoria Feng Shui), seja preparando um pequeno altar externo (como na Tailândia), usando uma miniatura de casa (como uma gaiola de pássaros), pintada com símbolos que propiciem o renascimento para “recepcionar” os visitantes do Além. Uma alternativa é seguir o costume vigente, levando flores para seus túmulos, encomendar um culto ou visualizá-los envoltos pela Luz Maior.
O importante é reconhecer o seu legado, reverenciar a linhagem ancestral, preservar as tradições antigas e honrar sua sabedoria lembrando a frase de Kahlil Gibran: “Todos os que viveram no passado vivem em nós agora. Que possamos honrá-los como hóspedes valiosos”.
De uma forma ou de outra, todas as antigas culturas do hemisfério Norte reverenciavam os mortos, com celebrações e oferendas realizadas no final do outono, quando a própria natureza entrava em declínio. Festejavam-se ao mesmo tempo a última colheita, o abate dos animais para garantir a sobrevivência humana durante os meses de inverno e a lembrança daqueles que tinham passado para o mundo dos espíritos, ao longo do ano.
Os nomes das comemorações dos ancestrais variavam de um país para outro – “Pitra Visarjana Amavasya”, na Índia; “O Dia das almas errantes”, no Tibet; “Festival Obon”, no Japão; e “A festa dos fantasmas famintos”, na China. Na África, em Daomé (atual Benim), celebrava-se “colocar a mesa”; na Sicília, na festa dos “I Morti” as mesas eram postas com “armuzzi” – “as mãos do morto” modeladas em massa de pão, enquanto no resto da Itália os doces de clara de ovo com amêndoas e açúcar eram chamados de “ossi di morti”. No México, até hoje, os familiares fazem piquenique nos cemitérios, levando para os túmulos, enfeitados com guirlandas de calêndulas, os pratos e as bebidas preferidas dos falecidos.
O dia de Los Muertos mexicanos não é uma comemoração macabra ou grotesca, mas uma maneira alegre, divertida e espontânea de reconhecer a inevitabilidade da morte. Ela aparece nos brinquedos das crianças (representada como soldado, herói, policial, médico, dentista, jogador de bola, professor, noivo ou noiva), nos enfeites de açúcar e nos doces, modelada como caveira ou esqueleto e nas “calaveras” – cartões e imagens de caveiras coloridas com dizeres engraçados trocados entre os amigos. Todos têm um esqueleto, todos vão acabar no cemitério, portanto, é melhor se acostumar desde criança com esta realidade.
As datas dos festivais dos mortos também diferiam de uma cultura para outra. No Egito, a baixa do Rio Nilo, em novembro, marcava o início de “Isia”, a celebração de seis dias que lembrava a morte do deus Osíris. Procissões, drama sagrado, cânticos e danças reencenavam a sua morte e ressurreição, bem como a celebração do retorno das almas para visitar seus familiares. Lamparinas iluminavam suas antigas moradias e os caminhos para orientá-las, os templos e as casas eram enfeitados com flores e oferendas de comidas e bebidas. Do Egito, este costume se espalhou pela Europa e foi preservado e adaptado pelos povos celtas. Por serem povos pastoris, os celtas dividiam o ano em duas estações – o verão, quando o gado era levado para os pastos, e o inverno, quando era trazido de volta.
“Samhain” (pronunciado “souen”) era o festival celta dos mortos celebrado no dia 31 de outubro, considerado o primeiro dia de inverno e o início do Novo Ano. Neste dia, os véus entre os mundos se tornavam mais tênues, as almas transitavam mais facilmente de um lado para outro. Além dos familiares mortos, outros seres se manifestavam nesta noite – fadas escuras, elfos, almas perdidas, espíritos zombeteiros. Para se protegerem deles, os celtas usavam máscaras de animais e acendiam fogueiras nas colinas para guiarem os espíritos dos seus ancestrais de volta para suas antigas casas, enfeitadas com lamparinas de abóbora ou nabo colocadas nas janelas e nas portas. Durante séculos, o cristianismo tentou, em vão, suprimir os festejos de três dias do Sabbat Samhain. Por não conseguir, apelou para o sincretismo religioso, criando o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados, sobrepondo a data cristã ao antigo festival pagão.
Os milhões de emigrantes europeus (principalmente irlandeses que estavam sem meios de sobrevivência após a grande fome de 1846) levaram para sua nova pátria – os EUA – seus costumes e práticas ancestrais. Surgiu, assim, a festa profana de Halloween, pela metamorfose dos significados antigos (máscaras, fantasmas, lanternas, comidas), disfarçados em apresentações caricaturais (bruxas, chapéus pontudos, perucas coloridas, vassouras, lanternas de abóboras, caça aos doces – este costume sendo uma reminiscência do hábito antigo de dar esmolas aos pobres e comida para as almas). O comércio e Hollywood contribuíram, em muito, para tornar o antigo festival Samhain em festa folclórica, infantil ou em um simples baile de máscaras. Mesmo assim, alguns povos ainda preservam de forma autêntica as tradições dos seus ancestrais. Os nativos norte-americanos celebram até hoje, na primeira lua cheia após o solstício de inverno, o retorno dos Kachinas – os espíritos dos seus antepassados, com o Festival Soyal, que inclui danças com máscaras, fogueiras e oferendas.
No Japão, o Festival Obon é celebrado durante 18 dias, requerendo uma esmerada preparação prévia dos templos, jardins, casas para a recepção dos “shugoray” – os espíritos dos ancestrais. As famílias se reúnem e invocam os espíritos com danças circulares que induzem a um estado de transe, facilitando percepções paranormais e manifestações de ectoplasmia e telecinésia. Antes de Obon, os familiares vão em peregrinação para os cemitérios, limpam a área, plantam flores e deixam oferendas de comidas, bebidas e imagens de cavalos (para ajudar o deslocamento dos espíritos entre os mundos).
No último dia do Festival, os ancestrais estão sendo encorajados para voltar para a “Terra dos Mortos” e enormes fogueiras são acesas para lhes iluminar o retorno. Deste amálgama de informações e costumes, cada pessoa pode criar uma homenagem pessoal para seus antepassados, seja criando um pequeno altar na sua casa (colocando fotos, objetos, lembranças no canto especificado pela sabedoria Feng Shui), seja preparando um pequeno altar externo (como na Tailândia), usando uma miniatura de casa (como uma gaiola de pássaros), pintada com símbolos que propiciem o renascimento para “recepcionar” os visitantes do Além. Uma alternativa é seguir o costume vigente, levando flores para seus túmulos, encomendar um culto ou visualizá-los envoltos pela Luz Maior.
O importante é reconhecer o seu legado, reverenciar a linhagem ancestral, preservar as tradições antigas e honrar sua sabedoria lembrando a frase de Kahlil Gibran: “Todos os que viveram no passado vivem em nós agora. Que possamos honrá-los como hóspedes valiosos”.
Mirella Faur
Fonte:teiadethea
Fonte:teiadethea