quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Yule: As origens pagãs da Celebração do Natal


Esse é o momento em que a Deusa dá a luz ao “Deus Sol”, a criança da promessa do retorno do verão. A partir desse dia, o brilho do Sol se intensificará cada vez mais. As famílias se reúnem ao redor de mesas fartas, celebrando o nascimento do Sol e o retorno da fertilidade do solo.  Dá início ao período em que se aguarda o derretimento do gelo e a retomada da vida produtiva. No Hemisfério Norte, o Yule é festejado entre 21 e 23 de dezembro, no Hemisfério Sul, entre 20 e 23 de junho. A festa celebra o Solstício de Inverno, que marca o dia que possui menos horas de luz.

“As bruxas modernas celebram o Natal com grande desejo; somente elas o reconhecem com o Yule, um dos grandes festivais da Natureza dos Antigos. Elas deploram o materialismo em busca de dinheiro que faz com que todos os sentimentos de felicidade da data sejam transformados em meros assuntos comerciais. (...) O Festival de Inverno que hoje conhecemos como Natal era uma festa tradicionalmente alegre. Com o renascimento do Sol, o provedor de calor, de luz e de vida, as pessoas tinham algo real que as podiam causar alegria, e todos os tipos de costumes antigos cheios de alegria, enraizados em um passado distante pagão prosperavam.” (Doreen Valiente, em “A Enciclopédia da Bruxaria”)

Ramos de azevinho, heras, pinheiros, árvores iluminadas, cervejas, vinhos, especiarias, frutas secas e sementes, carnes assadas, canções e presentes fazem parte de nosso inconsciente e trazem para o hoje as celebrações dos antepassados. Talvez essa seja a data que mais se mantém fiel aos ritos pagãos, quando mesmo no Hemisfério Sul, decoramos casas e comércios com temas invernais, relembrando toda a festiva alegria que envolvia o retorno do Sol e do calor após os rigorosos e longos invernos, que nas eras antigas nos privavam do conforto, da fartura e dos motivos de celebração que a terra nos traz. Yule é época de diversão, pois, por mais que o frio e a neve ainda estejam presentes, eles serão cada dia mais fracos e vencidos pelo otimismo do calor e da luz.

O hábito de celebrar o Natal à meia noite tem origem no costume pagão de celebrar o Yule um pouco antes da aurora, para que após pudessem acompanhar o nascer do Sol, homenageando os esforços do seu renascimento após o período de repouso invernal. A alegria e a celebração são grandes, após o período de privação que o Inverno traz.

Em Yule a escuridão reina como se estivéssemos no caldeirão da Deusa. Assim, O Rei das Sombras transforma-se na Criança da Promessa, o Filho do Sol, que deverá nascer para restaurar a natureza.” (Claudiney Prieto, em “Wicca para todos”)

O Cristianismo aderiu aos seus ritos a forte cultura de Celebração do Deus Sol, tentando dessa forma abafar o paganismo e atrair mais adeptos. Assim, transformou a celebração de Yule no nascimento do Menino Jesus, transformando-o na criança da promessa. Embora estudos apontem que Jesus tenha nascido durante a Primavera do Hemisfério Norte (provavelmente em Março), a data da comemoração de seu natalício foi modificada para coincidir com a celebração pagã. Praticamente todos os símbolos pagãos dessa celebração se mantiveram, mesmo não tendo nenhuma relação com o cenário que teria marcado o nascimento de Cristo. Os pinheiros iluminados, com suas folhas fortes e sempre verdes, a guirlanda que representa o visco que se pendurava na  porta, a representação da neve, a fartura de alimentos e as trocas de presentes comprovam até hoje a origem pagã desta celebração.

Papai Noel e o Yule

A figura do Papai Noel também possui origem pagã, porém, são vários os mitos que a cercam, fazendo com que existam várias teorias para sua relação com as festividades de Yule. 
O mito nórdico relaciona Papai Noel à Odin, que em comemoração ao Yule reunia Deuses e guerreiros que haviam morrido em combate e realizava uma grande caçada. As crianças  deixavam suas botas perto das chaminés, e as enchiam com cenouras, açúcar e palha, que eram recolhidas por Sleipnir, o cavalo de oito patas de Odin, como suprimento durante a Grande Caçada. Em retribuição, o Deus deixava nas botas doces e presentes. Ainda hoje, muitas culturas mantém o costume de deixar meias ou botas próximo às chaminés para que amanheçam repletas de doces e presentes. Esse costume também é associado aos três reis magos, que teriam presenteado o menino Jesus em seu nascimento.
O Bispo de Myra é quem representa a origem do Papai Noel através do mito conhecido na Turquia. O bisco, chamado Nicolau Taumaturgo, ajudava financeiramente os pobres e necessitados, colocando em suas chaminés bolsas com moedas de ouro. Ele teria feito muitos milagres e acabou se tornando um santo. Suas lendas se uniram às lendas pagãs de Yule para dar vida à uma das mais conhecidas lendas de origem do bom velhinho. Esta inclusive é uma lenda bem parecida com o mito dinamarquês de Santa Claus, mas, neste Sinterklaas (forma contraída do nome Sint Nicolaas, ou São Nicolau), viria de barco da Espanha, acompanhado de ajudantes negros que presenteavam as crianças boas e puniam as más.
No mito Celta, a figura do Papai Noel teria relação com as lendas dos irmãos gêmeos Rei do Carvalho  e Rei do Azevinho. Eles travavam batalhas e governavam por seis meses cada, sendo que o Rei do Carvalho é o representante da Luz, e o Rei Azevinho representante da Escuridão. O Rei do Carvalho que governa nos meses de luz, tem seu ápice no Solstício de Verão, entrando após em declínio. Já velho e fragilizado, trava uma batalha com seu irmão. O Rei Azevinho vence o conflito, senta em seu trono e passa a governar como um ancião bondoso e sábio, trazendo o Inverno, unindo as pessoas na esperança do renascimento do Sol e no retorno da luz, que acompanhariam seu próprio declínio como Rei da Escuridão. Ele reina nos próximos seis meses, até que o Sol renasça com o então fortalecido Deus da Luz, retomando seu trono como Rei do Carvalho.

O Espírito do Renascimento

A noite mais longa do ano traz em si a promessa do fim da escuridão com o nascimento do Deus Sol. É época de fazer renascer a esperança, rejuvenescer corações, alimentar sonhos e planejar a realização deles. Momento de se libertar de antigas crenças, medos passados, traumas, de iluminar e aquecer todo o Inverno de nossa alma e mente, substituindo a neve do medo e escassez de sentimentos pela fartura e fertilidade do amor e da alegria.

“Que o poder do Sol e do Espírito da Luz sejam despertados!
Que o poder do Sol e do Espírito da Luz voltem.
Que eles voltem do País do Verão.
Que a luz extinguida renasça agora”

Raquel Gallego Cesar