Aradia é uma personagem importante e interessante na Bruxaria Italiana; eu me arriscaria a dizer em toda a bruxaria até. Algumas coisas foram escritas sobre ela, existe um livro com seu nome, porém alguns mitos foram criados. Tentando esclarecer dúvidas e mostrar um pouco do que é o livro "Aradia, o evangelho das bruxas" e a Aradia, la Bella Peregrina eu escrevo a coluna desta quinzena.
La Bella Peregrina, nome com o qual ficou conhecida nos montes albanos até a Sicília, tem um significado grande para muitas tradições e clãs da Bruxaria Italiana, como a Ariciana e a Tríade de Tradições - Janarra, Fanarra e Tanarra. Lembrada como a professora e mestra das Streghe, Aradia não queria ser adorada: seu intuito era reviver com os camponeses dos feudos os Caminhos Antigos. Passou seus ensinamentos viajando e conversando, reaproximando as pessoas de suas raízes. Ela apontava a Vechia Religione como um alívio ao massacre religioso do cristianismo da época. Com o tempo, ela passou a ter discípulos, 6 homens (um deles era celta) e 6 mulheres. Quando Aradia passou a ser perseguida, esses discípulos saiam em casais para levar seus ensinamentos a diante. Seu símbolo, após sua partida era, e ainda é, a Chama Sagrada que é acesa no meio do altar. Ela é o fogo perene de seus ensinamentos e de nossa ligação com o Espírito do Caminho Antigo. Por fim, seus discípulos também foram perseguidos e muitos mortos e acredita-se que os pergaminhos, nos quais seus ensinamentos foram registrados, trancados no Vaticano. Alguns documentos históricos indicam a passagem de uma mulher peregrina pelo norte da Itália e indicam que talvez ela tenha passado seus últimos anos na Romênia.
Os ensinamentos de Aradia têm um cunho de simples entendimento e observação completa da Natureza. Ela fala sobre a Deusa Diana e o Deus Dianus ou Lúcifer; discorre como a Natureza é a maior de todas as professoras; deixa para os camponeses o valor e a importância do casamento baseado no amor e no respeito; sobre a força da sexualidade e sua magia; ela deixa um alerta sobre os cristãos, um cuidado que deveria ser tomado naquele momento de perseguição; e deixa um elenco de 13 "conselhos", que são conhecidos como "Covenant of Aradia": visando a convivência harmoniosa entre todos os seres da Criação.
O Evangelho das Bruxas foi escrito em 1889 por Charles G. Leland, folclorista inglês e estudioso de diversas culturas. Nesta publicação ele expõe ao público o relato de tradições, costumes e estórias de mulheres que se chamavam streghe (bruxas). A fonte de Leland era uma delas, Magdalena. Não se sabe bem ao certo se o que está no livro é a cópia fiel dos escritos das streghe ou se eles foram romanceados. Ele conta como Diana e Lúcifer deram a vida a Aradia e como ela se tornou a primeira Strega. A Aradia do livro também tem um caráter de professora, mas ela é nascida dos deuses. Existem no texto de Leland também uma larga influência de termos e ideais judaíco-cristãos, como no momento em que diz que Aradia não será como a filha de Caim (este mencionado algumas vezes), e o uso da palavra "amen" no fim de alguns feitiços. Raven Grimassi (1999) ainda coloca que o uso do nome de Lúcifer tenha sido por uma propaganda, o que atiçaria ânimos: será que este povo tem alguma ligação com o satânico? A resposta clara é não, uma vez que Lúcifer é a Estrela da Manhã, ou seja, o Sol - Appolo, o irmão gêmeo de Diana.
A leitura do Evangelho deve ser feita com critério. Nada do que está lá pode ser levado ao pé da letra. No entanto é mister percebermos que ele traz uma grande gama de tradições e idéias que podem ser bem aproveitadas na nossa prática. Ele é um parâmetro de cultura e ética antiga. Ele deixa claro que se faziam maldições, rogavam pragas e ameaçavam as deidades (como fazem os católicos que penduram santos de cabeça para baixo e afins). Tudo isso era visto como legítimo para essas streghe e como uma coisa corriqueira. Elas não sofriam a influência de uma filosofia mais oriental que fala de kharmas e coisas nesse gênero. Eram camponesas, filhas da Natureza que agiam como tal: pisas no meu pé, eu imediatamente piso no teu. Eu acredito que, de um ponto de vista histórico e social, é impossível fazer um juízo de certo ou errado sobre essas práticas.
Uma curiosidade sobre o Evangelho está no capítulo XI que descreve um pouco sobre a Casa dos Ventos e sua história. Existem muitas semelhanças com a vida da Aradia histórica.
Conclusões: existe o fato interessante de alguns relatos do livro se parecerem com práticas neopagãs, como o "Charge of Aradia" que tem grandes semelhanças com o "Charge of the Goddess" apresentado por Doreen Valiente. Além da similaridade com práticas feitas por bruxas italianas de muito antes da publicação do Vangelo (evangelho), como a nudez ritual como símbolo de liberdade e sinceridade, o que traz credibilidade aos escritos do livro - ou pelo menos, parte deles.
Por tudo que eu li, estudei e pratiquei até agora, a conclusão mais importante é que "os livros são bons conselheiros". Não é possível seguir um livro em 100% dele - isso se torna fundamentalismo. Hoje temos a capacidade e a oportunidade de sermos críticos: bruxos, magistas capazes de reflexão sobre o que lemos, ouvimos e praticamos a fim de não nos basearmos numa verdade infundada e cega.
Aceitemos que o livro é um ponto de partida, mas é necessário desprendimento e vontade para saber mais a fundo sobre, por exemplo, quem foi Aradia, qual a importância de Diana, por que Lúcifer é citado e quem ele é realmente para que não nos tornemos meros repetidores de versos. Sejamos bruxas e bruxos responsáveis e cientes de nosso papel como tais: investindo em nosso conhecimento e crescimento.
La Bella Peregrina, nome com o qual ficou conhecida nos montes albanos até a Sicília, tem um significado grande para muitas tradições e clãs da Bruxaria Italiana, como a Ariciana e a Tríade de Tradições - Janarra, Fanarra e Tanarra. Lembrada como a professora e mestra das Streghe, Aradia não queria ser adorada: seu intuito era reviver com os camponeses dos feudos os Caminhos Antigos. Passou seus ensinamentos viajando e conversando, reaproximando as pessoas de suas raízes. Ela apontava a Vechia Religione como um alívio ao massacre religioso do cristianismo da época. Com o tempo, ela passou a ter discípulos, 6 homens (um deles era celta) e 6 mulheres. Quando Aradia passou a ser perseguida, esses discípulos saiam em casais para levar seus ensinamentos a diante. Seu símbolo, após sua partida era, e ainda é, a Chama Sagrada que é acesa no meio do altar. Ela é o fogo perene de seus ensinamentos e de nossa ligação com o Espírito do Caminho Antigo. Por fim, seus discípulos também foram perseguidos e muitos mortos e acredita-se que os pergaminhos, nos quais seus ensinamentos foram registrados, trancados no Vaticano. Alguns documentos históricos indicam a passagem de uma mulher peregrina pelo norte da Itália e indicam que talvez ela tenha passado seus últimos anos na Romênia.
Os ensinamentos de Aradia têm um cunho de simples entendimento e observação completa da Natureza. Ela fala sobre a Deusa Diana e o Deus Dianus ou Lúcifer; discorre como a Natureza é a maior de todas as professoras; deixa para os camponeses o valor e a importância do casamento baseado no amor e no respeito; sobre a força da sexualidade e sua magia; ela deixa um alerta sobre os cristãos, um cuidado que deveria ser tomado naquele momento de perseguição; e deixa um elenco de 13 "conselhos", que são conhecidos como "Covenant of Aradia": visando a convivência harmoniosa entre todos os seres da Criação.
O Evangelho das Bruxas foi escrito em 1889 por Charles G. Leland, folclorista inglês e estudioso de diversas culturas. Nesta publicação ele expõe ao público o relato de tradições, costumes e estórias de mulheres que se chamavam streghe (bruxas). A fonte de Leland era uma delas, Magdalena. Não se sabe bem ao certo se o que está no livro é a cópia fiel dos escritos das streghe ou se eles foram romanceados. Ele conta como Diana e Lúcifer deram a vida a Aradia e como ela se tornou a primeira Strega. A Aradia do livro também tem um caráter de professora, mas ela é nascida dos deuses. Existem no texto de Leland também uma larga influência de termos e ideais judaíco-cristãos, como no momento em que diz que Aradia não será como a filha de Caim (este mencionado algumas vezes), e o uso da palavra "amen" no fim de alguns feitiços. Raven Grimassi (1999) ainda coloca que o uso do nome de Lúcifer tenha sido por uma propaganda, o que atiçaria ânimos: será que este povo tem alguma ligação com o satânico? A resposta clara é não, uma vez que Lúcifer é a Estrela da Manhã, ou seja, o Sol - Appolo, o irmão gêmeo de Diana.
A leitura do Evangelho deve ser feita com critério. Nada do que está lá pode ser levado ao pé da letra. No entanto é mister percebermos que ele traz uma grande gama de tradições e idéias que podem ser bem aproveitadas na nossa prática. Ele é um parâmetro de cultura e ética antiga. Ele deixa claro que se faziam maldições, rogavam pragas e ameaçavam as deidades (como fazem os católicos que penduram santos de cabeça para baixo e afins). Tudo isso era visto como legítimo para essas streghe e como uma coisa corriqueira. Elas não sofriam a influência de uma filosofia mais oriental que fala de kharmas e coisas nesse gênero. Eram camponesas, filhas da Natureza que agiam como tal: pisas no meu pé, eu imediatamente piso no teu. Eu acredito que, de um ponto de vista histórico e social, é impossível fazer um juízo de certo ou errado sobre essas práticas.
Uma curiosidade sobre o Evangelho está no capítulo XI que descreve um pouco sobre a Casa dos Ventos e sua história. Existem muitas semelhanças com a vida da Aradia histórica.
Conclusões: existe o fato interessante de alguns relatos do livro se parecerem com práticas neopagãs, como o "Charge of Aradia" que tem grandes semelhanças com o "Charge of the Goddess" apresentado por Doreen Valiente. Além da similaridade com práticas feitas por bruxas italianas de muito antes da publicação do Vangelo (evangelho), como a nudez ritual como símbolo de liberdade e sinceridade, o que traz credibilidade aos escritos do livro - ou pelo menos, parte deles.
Por tudo que eu li, estudei e pratiquei até agora, a conclusão mais importante é que "os livros são bons conselheiros". Não é possível seguir um livro em 100% dele - isso se torna fundamentalismo. Hoje temos a capacidade e a oportunidade de sermos críticos: bruxos, magistas capazes de reflexão sobre o que lemos, ouvimos e praticamos a fim de não nos basearmos numa verdade infundada e cega.
Aceitemos que o livro é um ponto de partida, mas é necessário desprendimento e vontade para saber mais a fundo sobre, por exemplo, quem foi Aradia, qual a importância de Diana, por que Lúcifer é citado e quem ele é realmente para que não nos tornemos meros repetidores de versos. Sejamos bruxas e bruxos responsáveis e cientes de nosso papel como tais: investindo em nosso conhecimento e crescimento.