quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Samhain e Ancestralidade

O Samhain está chegando e com ele, o Ano Novo das Bruxas!

Mas hoje convido você a refletir um pouco mais sobre essa celebração.

Tradicionalmente celebramos essa nova roda com queima de pedidos, metas a serem alcançadas, banquetes e festejos, afinal de contas é o Ano Novo!

Mas a simbologia deste festival é bem mais profunda. No mito da Roda do Ano, o Deus finalmente parte para o País do Verão, e a Deusa, em sua face Anciã, lamenta sua morte.

O véu entre os mundos está mais tênue, sendo assim, o espírito daqueles que já partiram transitam entre nós. Até por isso, é comum vermos as alegóricas fantasias de fantasmas nas festas de Halloween.

No entanto, na Wicca, e em muitas práticas espirituais, existe uma profunda relação de reverência aos Ancestrais. Podemos honrá-los a qualquer tempo, no entanto, em Samhain, as homenagens são bem mais especiais.

Temos diversas linhagens de Ancestrais. Os da Arte, que nos conecta às bruxas e bruxos da história, que criaram as Tradições e Caminhos Espirituais. Os da Terra, do lugar onde vivemos, os povos originários de nosso território, fundadores de nossa cidade, bairro ou lugar de nascimento. Os do Espírito, que são aqueles que nos inspiram e ensinam com suas histórias de vida, figuras políticas, líderes, vultos históricos. Os da Vida ou do Coração, que são as pessoas queridas e amadas que passam em nossa vida, amigos, cuidadores, companheiros e companheiras. E os do Sangue, nossa família consanguínea, parentes, avós, pai e mãe, irmãs e irmãos, tios e por aí vai.

A Ancestralidade é um tema bem complexo, se pensarmos em árvores genealógicas, tradições familiares, territórios e família…. Esse pode ser um território de dor para muitas pessoas, pois nem todas as histórias são belas e amorosas, com desfecho de felizes para sempre.

Seria ingenuidade da minha parte romantizar o sofrimento que atravessa gerações familiares na vida das pessoas, esse não é meu papel, tampouco minha intenção com esse texto. Muito pelo contrário, meu convite é uma reflexão sobre o que pode ser perdoado e o que pode ser curado. E pode ser que isso não aconteça agora, pois o perdão e a cura são processos elaborados, que levam tempo para acontecer de fato.

Muitos trazem em sua Linhagem Ancestral histórias de abuso, violência, abandono, escassez, e isso cria padrões energéticos em nosso DNA, que nos faz repetir as histórias, e muitas vezes sequer nos damos conta disso. Mas se olharmos atentamente a trilha deixada por nossos Ancestrais, encontraremos esses padrões.

Por exemplo, se você tem pais abusivos, que criam expectativas exageradas para sua vida, ou criticam exageradamente suas escolhas, muito provavelmente eles também tiveram pais com essa conduta, ou vivenciaram situações que os levaram a ter essa percepção do mundo. E se você buscar mais fundo, poderá até identificar esse comportamento em diversas gerações de sua família.

Isso não é uma justificativa para o abuso, nem para um comportamento tóxico, é apenas tentar olhar o quadro sob outra perspectiva. Para que você não se torne prisioneira ou prisioneiro desse padrão que causa sofrimento e dor. O mesmo se aplica aos lares amorosos e acolhedores. As histórias tendem a se repetir.

Mas o que isso tem a ver com o Samhain?

Ora, se neste festival dizemos que o véu entre os mundos se torna tênue, e temos a oportunidade de nos conectarmos com nossos Ancestrais, sejam eles quais forem, podemos fazer a escolha consciente de tentar curar essas dolorosas feridas deixadas de “herança” em nossas vidas.

Eu sugiro que comecem com um exercício simples. Escrevam... . 

Uma atividade muito tradicional do Samhain é escrevermos cartas aos nossos Ancestrais, e depois queimá-las para que as mensagens cheguem até eles. Se você consegue identificar qual foi a mágoa deixada, escreva sobre ela, desabafe, diga o quanto te faz mal, e o quanto te entristece ou enfurece. Deixe o sentimento fluir em forma de palavras.

Se nesse momento não for possível perdoar, tudo bem, como eu disse é um longo processo.

A cada Samhain, retorne às cartas, e tente entender quais foram as escolhas que levaram seus Ancestrais ao padrão que te causa dor. Tenha em mente que muitas vezes era o que eles tinham condições de fazer, pois só sabiam daquele jeito, daquele formato.

Mas você pode escolher fazer diferente, pois tem uma outra percepção dos fatos, e não deseja passar isso para sua próxima geração familiar.

Escolha perdoar, aos poucos, no seu tempo, no tempo do seu coração. Isso é um poderoso exercício de cura, e se por acaso você conseguir, com o passar do tempo, olhar para sua história entendendo o peso e a força do aprendizado que ela trouxe, vai perceber que a verdade assume um prisma multifacetado, e precisa ser olhada de muitas perspectivas, para que se chegue à raiz da questão. Conecte-se com seu coração, com sua alma, com suas raízes, e lembre-se, você é a continuação de uma história que ainda está sendo contada. O que você pode escolher agora?

Um Abençoado Samhain, com a bênção dos Ancestrais!

Mariana Leal