domingo, 28 de outubro de 2018

USO MÁGICO DAS PLANTAS: A COMUNICAÇÃO NA CONJURA


O uso mágico das plantas não se resume somente nas propriedade ocultas de cada erva, planta, etc. Esse é apenas o estudo do seu destino final. No estudo sobre as propriedades de cada planta vemos que elas apresentam características únicas em si mesmas e características novas, se combinadas com outras plantas. Porém, o que não muda é o fato de que a comunicação com as plantas é fundamental para “ativar” tais propriedades.
Alguns iniciantes nos estudos de Magia perguntam sobre como a pessoa cria propriedades das plantas. Ora, é preciso deixar claro que ninguém cria propriedades nas plantas, atribuindo a elas um poder. Você descobre quais propriedades elas possuem. E, então, através da comunicação, da conjura, você as desperta para aquilo que elas sabem fazer.
A conjura, assim como outras formas de nomearmos a comunicação com as plantas, é tão antiga quanto as religiões mais antigas. Esse tipo de comunicação coma anima(alma) da planta está presente dentro de religiões de base anímica, como o Paganismo, e de práticas religiosas de base anímica, como o Xamanismo.
Ora, se nas práticas xamânicas, que estão presentes nas religiosidades mais antigas, encontramos esse contato do homem com a alma da planta, não fica difícil supor que a sabedoria oculta das plantas fosse um conhecimento precioso praticado na antiguidade.
O USO MÁGICO DAS PLANTAS E A COMUNICAÇÃO COM A ESSÊNCIA DELAS HOJE
Comunicar-se com a alma das plantas hoje em dia é muito mais difícil, creio eu, que na antiguidade. A começar pelo nosso distanciamento quase cultural dos meios naturais. Acordar de manhã e ir recolher os ovos da granja e ordenhar a vaca dava às pessoas maior consciência desse mundo anímico. Ali, na coleta desses ingredientes, as pessoas podiam sentir a tensão da vaca, trocar com ela uma energia. E, nessa troca, tornar-se mais sensível ao que as energias desses seres não-humanos tem de peculiaridades.
O leite em caixa que chega a nossa mesa diz pouco ou nada dessa energia, dessa essência.
O mesmo podemos dizer em relação às plantas. Para fazer um feitiço, as pessoas compram ervas, muitas delas já secas, processadas, distantes da energia que tinham em vida. É claro que, quando desenvolvido o dom da comunicação com elas, é possível acessar essa energia a que me refiro. Estabelecemos uma comunicação com a alma da planta comparadamente* (comparação feita de forma vulgar e ilustrativa*) à forma como o necromante “acessa” alma do morto através de seu corpo.
No entanto, a essência da planta fresca ainda plantada é arrebatadora! Já tentaram ir à uma árvore e estabelecer uma comunicação para coletar uma folhas para um banho ou feitiço? É uma experiência incrível. As plantas tem seus próprios gostos e personalidades. Umas respondem de forma solícita, outras não se atem muito às necessidades dos homens.
Nesse jogo temos a oportunidade de contactar a alma desses seres do reino vegetal e entender a sutileza da forma como se comunicam.
PRA JOGAR É PRECISO ENTENDER QUE NEM TODA COMUNICAÇÃO SE DÁ ATRAVÉS DE PALAVRAS.
O mesmo se dá quando você tem plantas em casa. E eu digo isso porque eu não tinha “mão” pra plantar. Mas o interessante é que às vezes (como é o meu caso) viemos parar nesse mundo com certas dificuldades e “limitações” exatamente para que, ao aprendermos a superá-las, encontremos a chave para abrir portas interiores nunca antes percebidas.
Aprendi isso com um Boldo. Boldos são absurdamente resistentes e exigentes, assim como eu! rs. Quando ele veio pra mim ele estava determinado a ficar. Sua luta pela vida me fez sentir a alma dele. Ele se comunicou comigo e eu entendi seu chamado. E eu, que nunca tive “mão” para plantar, dei o solo e a quantidade de água que ele desejava. E ele carinhosamente me dá as melhores folhas para que nossa casa (a minha e dele) fique sempre livre de espíritos ruins e energias negativas.
O QUE POSSO FAZER PARA ACESSAR A ALMA DA PLANTA E ME COMUNICAR COM ELA?
Você pode começar ingerindo-a (se não for tóxica, claro!). Sinta seu sabor, seu aroma e a forma como seu corpo processa os efeitos dela. Busque saber mais sobre a planta em seu estado “vivo”, plantado. Veja suas cores, suas formas e a forma como se comportam frente à escassez de nutrientes. Leiam sobre seu comportamento (período de floração, lugares onde costumam aparecer ou são encontradas em abundância, forma de crescimento, etc). Tudo isso diz muito sobre elas, inclusive sobre a forma de uso oculto delas!
Assim como há pessoas calmas que levam calma a quem encontram, e pessoas mais impulsivas que fazem vibrar mais rapidamente a energia de um lugar, há plantas que fazem o mesmo. Isso tem a ver com a essência das plantas. Plantas conhecidas por conferirem potência a seus conjuradores tendem a ter e a gerar um expressivo aquecimento das mãos ao serem manipuladas.
Da forma igualmente peculiar, as flores ligadas aos assuntos familiares e curas de relacionamento tendem a apresentar a cor azul, a cor da cura. Esses fatos estão relacionados aquilo que chamamos de assinatura das plantas e isso nos traz, muitas vezes, mais informações do que aquelas contidas em listas baratas de uso mágico de ervas.
A combinação das ervas também é um caso a ser dado atenção especial. Às vezes eu sinto que algumas ervas gostam de trabalhar sozinhas, são autossuficientes e guardam em si o essencial para o que elas se propõem a fazer. Em outros casos percebo que elas se juntam (espécies diferentes) e formam algo que está além delas. Se somam, sabe? E o interessante é que o produto final é único. É um resultado que nenhuma das duas poderia conferir sozinha a um trabalho.
É COMO A CRIAÇÃO DE FRAGRÂNCIAS DE PERFUMES. EM CADA NOTA UMA AÇÃO DIFERENTE E, JUNTAS, A COMBINAÇÃO PERFEITA PARA UMA DETERMINADO EFEITO.
Voltando a praticas xamânicas observo o que ocorre na formulação da Ayahuasca. A Lenda de sua criação conta que houve inicialmente a descoberta de um cipó. Esse cipó, quando aliado a outras plantas de igual importância na Magia, formaram a poderosa Ayahuasca.
Na primeira vez que participei de uma cerimônia indígena Huni Kuin ouvi as pessoas dizendo: “a planta tem vida”. Eu, cética, pensei… “Claro, plantas são seres vivos…” Depois de uma madrugada de cerimônia eu entendi a “vida” a qual eles se referiam. Que personalidade! Que cores! Que sabedoria ela possui!
O mesmo se dá na construção de Feitiços. Um cúrio de proteção e felicidade para a família, como o Manjericão, se somado a ervas de amor, como as pétalas de Rosas, formam um novo composto. Uma essência vital que trabalha para proporcionar afeto nas relações familiares.
ATRIBUTOS DE ALGUMAS PLANTAS
Há plantas também que simplesmente não trabalham juntas. Não que elas se recusem, mas é que elas se anulam.
Vou citar como exemplo aqui o caso da Valeriana. Sempre que pensamos na Valeriana vem a nossa mente trabalhos relacionados à remoção de condições de maldições, limpezas espirituais. Logo, ela trabalhará com plantas irmãs de limpeza e banimento ou será associada em combinações cujo o objetivo seja remover o que pode estar gerando o Mal, como no caso das brigas entre casais. Mas a atuação dela não para por aí.
Encontramos na raiz de Valeriana um odor bem forte, capaz de deixar loucos os gatos (símbolos do poder da sensualidade e sexualidade). Isso nos indica sua extrema eficácia do uso dessa raiz para esses mesmos fins atrativos-sexuais em pessoas.
MAS OBSERVE QUE O AROMA DE DETERMINADAS RESINAS, A PICÂNCIA OU CALOR DE ALGUNS CÚRIOS E ATÉ A FORMA DAS RAÍZES E FLORES NOS DIZEM MUITO SOBRE A VERSATILIDADE NO USOS DOS MESMOS.
Há quem diga que com a Arruda ocorre o mesmo. A principal propriedade da Arruda é mover o Mal, deslocando-o de onde ele está. Logo, ela trabalhará com plantas irmãs de limpeza e banimento.
As peculiaridades do Alho também são bem interessantes e remetem ao que ocorre com a Arruda. Comumente usado para limpezas espirituais e banimentos de energias (e pessoa) desagradáveis, o alho também atua como elemento dominador. Assim, ela pode atuar “banindo” a vontade do outro, fazendo prevalecer a sua.
Contudo, vale frisar aqui que essas propriedades versáteis não podem ser encontradas em todas as ervas. Muitas simplesmente anulam qualquer propriedade maléfica a qual ela seja associada, como é o caso da Oliveira.
Por fim, volto a minha reflexão sobre a importância de estreitar os laços com os cúrios vivos de seus feitiços. Afinal, a comunicação com a planta é fundamental para a obtenção de sucesso no seu trabalho de magia, seja para uma viagem xamânica, seja para um feitiço. E, lembre-se, não há diferença entre o seu tempero da cozinha e a planta não conjurada no seu feitiço. Sem a conjura, ambos são só uma lembrança física daquilo que poderia ser “acordado”.
Então, use sua voz quando quiser ser escutado.
Jess, O Sortilégio.