quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Sagrado Feminino – A Lua em nós


Antes do celular, antes da TV, a luz que vidrava os olhos humanos, depois que a noite caía, vinha do céu. No seu feed tinham histórias de vida e morte, fartura e miséria. A Lua, com sua forma mutável, permitia aos homens compreender a natureza cíclica da vida, através de suas fases ritmava os períodos favoráveis à pesca, caça, semeadura e colheita. Desta forma, o ciclo lunar adquiriu significado importante na vida humana.
Suas quatro fases de 7 dias originaram a primeira referência para a medição do tempo com meses e semanas. Calendários lunares foram largamente utilizados no mundo antigo. Em alguns países ainda utiliza-se oficialmente o calendário islâmico, onde cada um dos meses possui exatamente um ciclo lunar, que se inicia quando a primeira nesga de luz é avistada logo após a lua nova. O sábado e o sabá dos judeus tiveram origem nos cultos lunares: entre os babilônios, sabattu era o dia de Lua Cheia, quando a deusa Ishtar ficava menstruada e, indisposta, precisava se recolher. Todos deviam, então, aproveitar o dia para descansar o coração.
Ishtar, Ártemis, Selene, Hécate, Diana, Isis, Inanna, as divindades referentes à Lua quase sempre são femininas e, mesmo em culturas em que a Lua não é representada por divindades personificadas, suas fases são associadas aos ciclos de vida, morte e renascimento, atributos culturalmente relacionados ao arquétipo feminino. Por aqui o povo Guarani celebra Jaci, ou Araci, a ‘mãe dos frutos’, protetora dos amantes e da reprodução.
E assim, como Deusa, toda mulher tem a Lua dentro de si. Ela cresce em seu ventre, aumentando os níveis de estrógeno e o tamanho do óvulo. Fica cheia, chegando ao ápice dos hormônios e mandando o óvulo maduro direto para o útero, tanta luz se reflete na pele e no ânimo da mulher. Depois míngua, diminuindo as taxas de estrógeno e sugando as energias para a proteção do óvulo que, se estiver fecundo terá uma fofa caminha de bebê, caso contrário aguardará o momento de ter sua luz apagada. Então é chegada a hora de se renovar, desprendendo o endométrio que se esvai em sangue, é o fim de um ciclo, representa a morte e ao mesmo tempo a vida, pois todo fim é um começo.
Todo esse ciclo hormonal feminino tem a mesma duração do ciclo lunar, associar um ao outro é uma forma de se conectar com as energias cósmicas e possibilita compreender que assim como a Lua temos nossa fase escura, onde a força vital parece ter desaparecido quando apenas está voltada para dentro, em introspecção e renovação. O termo Tensão Pré-Menstrual e toda a conotação negativa que ele carrega perde significado. Da mesma forma todos, homens e mulheres, sofrem menos ansiedades e frustrações ao perceber e aceitar que não somos seres de personalidade estática, mudamos e evoluímos de forma dinâmica. E como disse Goethe: Onde há muita luz, mais forte é a sombra.
Tailu Nascimento