sexta-feira, 15 de junho de 2012

Conversas ao pé do caldeirão: a magia na cozinha





Cresci observando minha cuidadosa mãe em sua herbal alquimia, dizendo sempre ser a cozinha o coração da casa, numa representação simbólica e factual do eterno centro provedor da vida, já que é o local de preparação do alimento tão bondosamente doado por Gaia.

A agilidade com que ela preparava a mais saborosa refeição, usando sempre ingredientes frescos e enfeitando com amor os pratos, deixavam-me com ansiedade para a chegada das refeições. Isto, sem falar na agregação de pessoas em volta dela, pois a cozinha sempre foi o local de agradáveis bate-papos, enquanto ela socava massa de pão ou fazia bolo, numa maestria onde a mais simples comida transformava-se em um manjar!

Em datas e ocasiões comemorativas – mais freqüentes do que as que constam no calendário juliano – ela enfeitava a mesa, ornando-a com velas, trigo e flores, numa celebração à vida e a tudo que ela proporciona. Quando se fala em ervas, logo penso na facilidade com que minha mãe estava sempre a especular e aplicar seus remédios caseiros, conversando comigo sobre as propriedades contidas em cada uma das ervas em nosso jardim.

Bom, agora moro sozinha e, talvez em virtude desta dificuldade, meu relacionamento com as ervas tem se consolidado a cada dia, com novas descobertas, movidas à intuição e experimentação. Primeiro, porque aprendi a cuidar de minha herança, uma spatifillus que recebi de minha mãe quando ela se mudou para Natal. Segundo, porque a culinária falou mais alto, no que diz respeito ao preparo das ervas a serem utilizadas.

A agilidade com que ela preparava a mais saborosa refeição, usando sempre ingredientes frescos e enfeitando com amor os pratos, deixavam-me com ansiedade para a chegada das refeições. Isto, sem falar na agregação de pessoas em volta dela, pois a cozinha sempre foi o local de agradáveis bate-papos, enquanto ela socava massa de pão ou fazia bolo, numa maestria onde a mais simples comida transformava-se bem diante de nossos olhos!

Herdei essa qualidade e nem me atrevo a "provar"comida, ou, ainda, seguir receita... Cozinhar é um ato de amor e pura magia! As bruxas que não cozinham que me desculpem, mas culinária é fundamental!

Meu primeiro contato com as ervas veio da necessidade de alcance de combinações de forno e fogão, já que eu tinha – e, de fato, ainda tenho – desconfiança em relação aos temperos prontos. Passei a observar a textura, o gosto in natura, estudar as propriedades terapêuticas e mágicas de cada erva, tentando aprender o que estava latente nas plantas ao meu redor.

Acredito que a Natureza contenha simbolicamente a destinação de suas plantas e ervas. O espinho, por exemplo. Nada mais protetor do que uma planta que contenha espinhos, justamente porque o espinho é o instrumento intrínseco na planta em se defender dos predadores.

Outra demonstração disso é o sabor picante contido em determinadas ervas e alguns sabores, que podem ser direcionados tanto para bruxedos de proteção, como, também, para incrementar relacionamento. É o caso da pimenta, pois a latência com que está disposta a arder proporciona, de um lado, a defesa natural, como, de outro, o consumo em ardente fogosidade, hábil a acalentar os desejos mais profundos dos fogosos amantes.


Antes, achava eu bem prático dirigir-me a um supermercado e comprar tudo pronto, ensacado ou enlatado. Mas, aos poucos - não demorou tanto assim - prefiro fazer a secagem de alguns temperos, procurando-os nas famosas feiras-livres, os centros inenarráveis de descobrimento da magia! Ou, ainda, plantá-los no meu jardim de cheiros!

Aprecio bastante um bom maço de alecrim, manjericão e sua prima manjerona, hortelã e arruda, considerando o conjunto uma equipe básica de atuação.

Prefiro sempre os maços reluzentes, com o aroma bem marcante, pois é indicativo de frescor da erva. Como os maços geralmente vêm enrolados em um cipó ou liga, sendo molhados para não perderem seu cheiro, a primeira providência a ser tomada é lavagem do maço e a primeira secagem das folhas, abrindo as folhas para que não apodreçam.

Retiro o cipó, lavo bem em água corrente e tomo a cautela de fazer a higienização com vinagre de maçã ou limão, na razão de uma colher para cada meio litro de água.

Não tem problema em relação a qualquer alteração no sabor, porque a erva poderá ficar até uns dez a quinze minutos submersa, podendo ser lavada depois.

Em cima de uma toalha, inicio minha meditação, agradecendo à Deusa e ao Deus o provimento do sabor da comida que irei ingerir. Acendo um incenso, ou, ainda, um aromatizador, preferencialmente com um aroma mais neutro, para não confundir com o cheiro da erva fresca. Não vejo sentido em fazer um fumacê, sob a desculpa de consagrar a erva com outra erva, pois acho que perde o sentido da consagração que pode ser feita aproveitando a destinação atribuída à planta.

Ao som de uma boa música, em harmonia, começo a separar os maços de ervas secas, amarrando os tufos com uma linha representativa do que pretendo catalisar com a folha. Usualmente amarro todas com linha verde, a cor da fertilidade que desejo atribuir ao efeito da erva.

por Alessandra de La Vega