terça-feira, 16 de setembro de 2008

FADA MADRINHA



As fadas estão sempre associadas ao mistério do parto e do nascimento. São, antes de tudo, "Madrinhas", que distribuem dons sobre o berço dos recém-nascidos e profetizam sua futura carreira.

A Lenda de São Armentário", composta até o ano de 1300 por um tal Raymond, gentil homem de Provenza, conta que as mulheres com dores de parto iam fazer sacrifícios sobre uma pedra sagrada chamada de "Lança da Fada" em honra a fada Esterélle, que deu se nome ao maciço de pinheiro que se encontra nas cercanias de Cannes, no interior, e onde mais tarde se construiu o monastério de Notre-Dame-de-l'Estérel.

As fadas madrinhas são as benfeitoras dos homens. Quando aparecem ante sua vista é geralmente para satisfazer seus desejos ou para dar algum presente.

Porém seus dons são as vezes paradoxos. À primeira vista parecem desdenháveis: só depois de um certo tempo revelam seu valor verdadeiro.

O doutor Roger Mignot, segundo Éduard Brasey, faz referência à um relato que põe em cena um desses dons ambíguos:

"Uma fada leva o avental de um jovem com algo que não deve ver absolutamente até chegar a sua casa. Cheia de curiosidade, a mulher olha e se dá conta com surpresa que transporta pedaços de carvão. Os atira no chão, salvo dois, que conserva. Uma vez em casa, os pedaços de carvão se transformam em pedras preciosas. Quando regressa para intentar encontrar os outros pedaços, vê que haviam desaparecido."

Em uma pequena aglomeração de Rouge-Vie, junto a Champagney, em Haute-Saône (FR), se conta que antigamente doze fadas tinham o costume de ficarem até de madrugada envolvidas com suas rocas. Um dia foram convidadas para uma boda e levaram como presente uns ramos de abeto, que ofereceram à noiva e suas amigas. Essas últimas, colocaram o presente fora, sem interesse por ele. Porém, a jovem esposa conservou-o, e o fez bem, pois na manhã seguinte teve a surpresa de descobrir que o simples ramo de abeto havia se transformado em um ramo de ouro".

O doutor Delogne, ainda segundo Éduard Brase, colheu o depoimento de alguns camponeses que afirmam terem encontrado fadas. Cita especialmente o relato de um tal de Jean-Baptiste Duseur, que tinha 89 anos de idade em 1913. Esse contou que:

"uma parteira de Vresse havia ajudado uma fada a dar à luz. Como pagamento único de seus serviços, recebeu espigas de milho. Porém, ao voltar para casa, a parteira comprovou que as espigas haviam se transformado em ouro".

Em seu livro titulado "Science of Fairy Tales", um autor inglês chamado Hartland propõe uma explicação:

"O dom de um objeto aparentemente sem valor que se transforma, observada as recomendações, em um objeto de maior valor possível é comumente utilizado nas transações das fadas. É uma das manifestações mais evidentes do poder sobre-humano".

Aqui encontramos sobretudo uma ilustração do saber velado que dispensam as fadas a seus protegidos. Se oferecem demasiadamente fácil seus tesouros, não haveria nenhum mérito no feito de aceitá-lo. Qualquer um poderia enriquecer sem dificuldade.

Na realidade, os eleitos pelas fadas sabem que suas madrinhas exigem deles discernimento e perseverança. O carvão que lhes oferecem leva dentro de si um embrião de ouro, como as trevas contém o germem da luz, porém, o ser humano deve saber reconhecê-lo e extraÍ-lo.

Os dons das fadas sempre vão acompanhados de certa sabedoria.

O VIVER E PENSAR MÁGICO

Para a maioria dos adultos, as fadas e suas fábulas não são mais do que uma recordação da infância, mas que, em segredo, muitos desejariam que fosse sua própria vida, já que com magia poderiam resolver qualquer problema.

Porém hoje, a Magia consiste em redescobrir as coisas que estão à nossa volta, em reencontrar outras e através do contato com elas, ampliar nossas possibilidades, elevando nossa consciência e aprofundando nosso conhecimento interior.

Não se trata de voltar ao paraíso da infância perdida, nem deixar-se levar por fabulosas fantasias, mas sim utilizar a fantasia como veículo dessa "viagem" para voltar a encontrar a espontaneidade, a pureza, a sinceridade que vem do coração e que permite nos reconciliarmos com a Natureza. Uma Natureza, vista não só como um conjunto que nos rodeia, mas sim como uma corrente de energia com a que nos compenetramos e da qual também fazemos parte. Uma relação de harmonia com a Natureza, nos permitirá desenvolvermos um merecido amor por nós mesmos e também nos permitirá entrar realmente em contato com os demais.

A nossa Terra Mãe, está tentando desesperadamente poder nos falar e nos induzir a transcender o pensamento ordinário com que construímos nossa existência e, em conseqüência, também o modo como percebemos a vida de todas as coisas.

Desenvolvendo uma maior atenção ao Mundo que nos rodeia, lograremos despertar nossos sentidos para poder reconhecer o divino que vive em nós e em todas as coisas; o Espírito que de igual forma permeia a todos e cada um dos átomos do Universo, também a menor entidade visível à nossos olhos. Só assim seremos capazes de entrar em relação com a realidade para poder descobrir, com uma renovada e recuperada sensibilidade, as necessidade dos demais.

No fundo, a Magia é a Vida mesma, ou se converte nela a partir do momento em que reconhecemos a "misteriosa alquimia", aquela que crê na harmonia e nos acolhe na sua Unidade, como células de um só corpo.

O Pensamento Mágico, portanto, consiste em saber reconhecer no outro a mesma importância com respeito à composição da Obra Divina e empreender, em conseqüência, a relação com o divino através do encontro profundo com sua Criação; com a Terra, com o Céu, com a Natureza e com os Seres Encantados, que esperam que se amplie nossa visão para entrar em contato conosco.

Ainda bem que hoje, já não se considera tão "terrível", nem simplesmente "loucura", falar de Devas, de Espíritos da Natureza e de outros seres encantados. Ao nível de consciência das pessoas está mudando ao mesmo tempo que tem lugar uma transformação nos modelos sociais e religiosos e aqueles que uma vez foram símbolos empoeirados pelos séculos da história, agora voltam a resplandecer unindo-se a "trama sem fim" que cita a voz de antigas culturas. E, entre essas vozes, é possível chegar a escutar o riso e o canto das Deusas, da Natureza, dos Irmãos de Luz, dos Seres Encantados: o canto dos Tuatha de Danann, o povo do Sidhe que atravessa o véu que nos divide e nos oferece como um dom uma taça de luz para que possamos beber esperança, alegria, sensatez, desejos de conhecimento, verdade, valor e, sobretudo, Amor e Harmonia.